Occidental Petrolum: Mudança total

A unidade que a Occidental Petroleum (conhecida também por Oxy) opera a Sul do Curtis Ranch, com cerca de 44 500 km2, integra a chamada bacia do Permiano, na região oeste do Texas e do Novo México, responsável por um quarto da produção petrolífera norte-americana. A paisagem é pontuada por gado a pastar placidamente no…
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Vicki Hollub é a primeira mulher à frente de uma grande petrolífera e a responsável por estar a promover uma profunda reestruturação da empresa e colocá-la a gerar muito dinheiro.
Negócios

A unidade que a Occidental Petroleum (conhecida também por Oxy) opera a Sul do Curtis Ranch, com cerca de 44 500 km2, integra a chamada bacia do Permiano, na região oeste do Texas e do Novo México, responsável por um quarto da produção petrolífera norte-americana.

A paisagem é pontuada por gado a pastar placidamente no meio de centenas de perfuradoras que extraem petróleo e gás a 3200 metros de profundidade.

As perfuradoras da Oxy têm o corpo cinzento e o topo encarnado, e lembram um exército furioso de “cabeças vermelhas”. Vicki Hollub, de 57 anos, sente-se aqui como peixe na água. Há dez, era ela quem geria a posição da Oxy no Permiano, isto é, cerca de 400 mil hectares.

Hoje, a Oxy é o principal produtor na região, com 270 mil bpd – metade do total produzido pela petrolífera em todo o mundo. Hollub, presidente-executiva da Occidental, garante que vai duplicar a produção no espaço de dez anos. “É muito difícil abrir um poço seco nesta zona. Mas não é preciso explorar muito para encontrar um, basta descobrir a melhor maneira de extrair o que lá existe. E a Oxy tem reservas para mais uns 50 anos”, realça.

Aqui, o solo é extremamente rico em petróleo: é como ter dez campos petrolíferos num só, camadas sobre camadas, como um bolo.
Hollub preside a uma nova Oxy, que apostou tudo no Permiano.

A “optimização da carteira” obrigou a cortar nas gorduras da empresa, eliminando os excessos do anterior presidente-executivo, Ray Irani, nomeadamente 25% dos seus activos, incluindo campos com baixo custo-eficiência em quatro estados americanos e em países como a Líbia, Iémen e Iraque.

Em 2014, Hollub orquestrou o spin-off da California Resources Corp. (CRC), que ficou com todos os activos da Oxy no Estado da Califórnia, entre os quais Elk Hills, que assegura metade da produção de gás natural da Golden State. Nesta operação, transferiu também uma dívida de cerca de 5 milhões de euros para a CRC, vendeu a sumptuosa sede da Oxy em Los Angeles por 33 milhões de euros e consolidou os escritórios em Houston, no Texas.

Atrás do lucro

Actualmente, metade da produção da Oxy provém do Qatar, Oman, Abu Dhabi e Colômbia, e a outra metade do Permiano. “Hoje em dia, investimos apenas em activos de qualidade”, afirma Hollub. A Occidental, à imagem de outras grandes petrolíferas, como a Exxon Mobil e a Chevron – conhecidas como “Big Oil” – adoptou um modelo de integração vertical, pelo menos no Texas.

A rede de oleodutos da Oxy transporta o “ouro negro” até Corpus Christi, onde a divisão OxyChem opera as unidades químicas e um novo terminal para gigantescos camiões-cisterna, instalado numa antiga base naval. “Estamos integrados como as Big Oil, pagamos dividendos como as Big Oil, mas somos pequenos q.b. para podermos garantir um crescimento sólido”, explica Hollub.

Em 2016, quando o barril valia 40 dólares, a Oxy registou perdas líquidas na ordem dos 515 milhões de euros, mas Hollub diz que, com o barril a 45 dólares a Oxy pode muito bem aumentar a produção.

Actualmente, o barril de crude negoceia acima dos 60 dólares, o preço mais alto dos últimos anos, o que significa que a Oxy poderá obter lucros líquidos de 1,3 mil milhões de euros, segundo contas de Hollub. Que é como quem diz: por cada dólar, a Oxy pode vir a arrecadar perto de 100 milhões (cerca de 85,7 milhões de euros).

Aquando da morte do fundador da Oxy, em 1990, os comandos da petrolífera passaram para as mãos de Ray Irani, um engenheiro químico arrogante e autoritário que prosseguiu o trabalho de Hammer: percorrer o globo para arranjar super negócios com países como o Qatar, Omã e Líbia. Nos anos em que liderou a Oxy, Irani era o presidente-executivo mais bem pago.

Em 2016, aliás, atingiu o “pico” de 395 milhões de euros. Durante os 20 anos em que esteve à frente da empresa, as acções da Oxy tiveram retornos de 2000%, quatro vezes mais que o S&P 500.

Chazen, um ex-banqueiro de investimento que desarmadilhava minas no Vietname, esteve sempre na sombra de Irani. Discreto, subtil e doutorado em Geologia, Chazen não tinha especial simpatia pelo responsável.

Em 2011, a administração da Oxy não podia continuar a ignorar o salário obsceno de Irani e decidiu nomear Chazen para o cargo, mantendo Irani como presidente da empresa. Este recusou e, em 2013, depois de uma votação cerrada (inclusive por procuração), os accionistas livraram-se dele e teve direito a mil milhões de euros de indemnização. Chazen promoveu Hollub a presidente e incumbiu-a da supervisão do spin-off na Califórnia. A presidência-executiva chegou no início de 2016.

Mulher de armas

Hollub cresceu no Alabama e, ainda muito jovem, tonou-se fã da equipa de futebol local. Bear Bryant, o lendário treinador do clube, era o seu ídolo. Quando entrou para a universidade, em Tuscaloosa, o seu sonho de caloira era tocar trompa numa orquestra filarmónica.

Um dia, um professor de música disse-lhe que o seu talento, quando muito, lhe permitiria tocar na banda marcial da universidade. “A sua honestidade foi uma bênção para mim!”. Foi então que começou a olhar para Bryant com outros olhos. “O objectivo não era vencer jogos, mas sim campeonatos nacionais. É uma cultura e uma atitude não conformista”, sublinha Hollub.

Em 1982, a Oxy comprou a empresa onde Hollub trabalhava, a Cities Service, e foi ficando. Liderou equipas na Venezuela e no Equador, e ficou surpreendida “com as muitas oportunidades que surgiram”, recorda.

Depois aterrou na Rússia e descobriu que fora escolhida para aquele trabalho “porque mais ninguém queria fazê-lo”. O futebol ajudou-a a enfrentar desafios duros numa indústria dominada por homens.

“Era o tema que ajudava a quebrar o gelo e muitas outras barreiras”, realça. Hoje em dia, Hollub é uma das 28 mulheres à frente de empresas do S&P 500. “Não gosto da expressão ‘exemplo a seguir’. Pessoalmente, acho que tive sorte. Não estaria onde estou hoje se não fosse o futebol e o apoio de algumas pessoas-chave da indústria – homens, entenda-se.”

Em 2015, quando o preço do petróleo caiu, Hollub tomou uma decisão importante: reduzir activos em vez de cortar postos de trabalho. A Oxy acabou por ter de cortar nos fornecedores, mas não despediu trabalhadores. Hollub viu aqui uma oportunidade para mudar a cultura da petrolífera, ainda sob os efeitos das decisões de Irani.

Os millennials foram enviados para o terreno em vez de irem para o desemprego. Até que ponto ter uma mulher a dirigir a empresa pode fazer alguma diferença? A par de outras, como a directora jurídica, a vice-presidente e a directora de relações externas. “Não creio que faça grande diferença, mas é fantástico que assim seja”, diz James, uma engenheira de 26 anos.

Será ainda mais fantástico, seguramente, quando os preços do petróleo estabilizarem. A empresa estima que, se o barril estabilizar nos 50 dólares (cerca de 43 euros), poderá gerar receitas anuais na ordem dos 4,8 mil milhões de euros, o que é suficiente para arrecadar cerca de 1,9 mil milhões de euros em dividendos, com a taxa de rendibilidade das acções a rondar os 5%.

Hollub considera o pagamento de dividendos algo sagrado e saudável para a disciplina orçamental, o que faz da Oxy uma opção sólida para qualquer investidor optimista, mas tímido.

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