As transacções com os cartões de marcas internacionais pré-pagos, emitidos pela banca angolana, nomeadamente Visa e Mastercards, mais do que duplicaram entre 2020 e Setembro deste ano, reflectindo assim as mudanças no mercado cambial do país desde a sua liberalização pelo Banco Nacional de Angola (BNA), de acordo com cálculos da FORBES feitos com base nos dados estatísticos daquele organismo.
Até Setembro deste ano, as estatísticas da Empresa Interbancária de Serviços (Emis), enviadas para o banco central, apontavam para um total de 3,9 milhões de transacções, o que representa uma subida de 180%, face ao total de operações com o mesmo tipo de cartões em Dezembro de 2020.
À FORBES, vários analistas do mercado e gestores bancários associam o crescimento das operações às últimas medidas de correcção ao mercado bancário angolano, com destaque para o cambial, “que ajudou a desburocratizar o acesso às divisas e às notas de moeda estrangeiras no mercado nacional”.
Na prática, a subida das operações com os cartões pré-pagos sinaliza que há cada vez mais clientes de bancos angolanos a utilizarem este meio de pagamento lá fora ou mesmo no país, seja para levantamento de notas ou até para compras online.
É a primeira vez, em cinco anos, que a banca nacional angolana regista uma subida tão substancial no número de operações com cartões pré-pagos, já que a última vez que as operações estiveram acima dos 3,9 milhões foi em 2016, com o total de transacções a situar-se nos 4,2 milhões.
Para o economista Wilson Chimoco, o aumento do número de explorações já reflectem as políticas de ajustamentos do BNA ao mercado doméstico. Na percepção do analista, há já no país uma melhor oferta de divisas, quadro que não se verifica há anos na banca local.
“Certamente que [o aumento] resulta das medidas do regulador sim. Hoje, em virtude dos ajustamentos registados, há uma melhor oferta de divisas e melhoria de capacidade de resposta dos bancos comerciais no carregamento e liquidação das operações em moeda estrangeira realizadas pelos operadores nacionais”, explica.
Por outro lado, Chimoco não descartou ainda a possibilidade de este aumento estar relacionado ao facto de as pessoas estarem, nalguns casos, impedidas de viajarem para o exterior, o que, na visão do economista, também influencia no aumento das disponibilidades nos bancos para fazer face à demanda. “Mas também tem que ver com a redução das medidas restritiva à mobilidade das pessoas”, acrescenta.
Em recente conferência de imprensa, o próprio banco central angolano, pela voz do seu governador, manifestou publicamente que já tinha atingido o equilíbrio ou a estabilidade no mercado cambial. Na nota que resume as medidas saídas no último comitê de política monetária, José Massano garantia que o mercado está normalizado.
Esta posição ficou ainda mais evidente com os últimos dados sobre as contas externas angolanas. Segundo o relatório referente o segundo trimestre deste ano, o saldo da conta corrente da balança de pagamentos fechou o período a registar saldo superavitário.
De acordo com os dados preliminares do segundo trimestre, o saldo da conta corrente foi de 1.724,52 milhões de dólares norte-americanos, contra 1.974,58 milhões de dólares norte-americanos no trimestre anterior.
Cartões de crédito também cresceram
Das estatísticas do BNA, há ainda registo de subida nas operações com os cartões de crédito. De 2020 a Setembro deste ano, o total de transacções com estes meios de pagamento de bens e serviços situou-se nas 2,2 milhões de operações, um crescimento de 34,3% face ao total registado até Dezembro de 2020.
Só os cartões de débitos VISA e Mastercards é que não registam operações. na verdade, este tipo de instrumentos não registam qualquer operação há quase quatros anos. A última vez que se registou uma única operação foi em 2017.
Entretanto, os dados da EMIS, compilados pelo banco central não dizem de que bancos são os cartões que registaram movimentos e os que não registaram movimentos, isto é, entre 2020 e Setembro de 2021.