A inauguração do Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto (AIAAN) representa um marco na infra-estrutura dos transportes em Angola e exigiu e continua a exigir uma preparação tão cuidadosa quanto profissional para assegurar uma transição operacional segura, fiável e eficiente. Este novo hub de carácter regional, com capacidade anual para até 15 milhões de passageiros e que redefine o panorama da aviação civil no nosso país, encerra uma complexidade técnica e estratégica na transição de voos do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro que exige não apenas um planeamento minucioso, mas também um domínio claro sobre as mais avançadas soluções tecnológicas e de gestão aeroportuária.
Complexidade da operacionalização
No sector aeroportuário, a transição para um novo aeroporto envolve muito mais do que a transferência física de operações. É uma operação que requer uma orquestração sistémica de processos, tecnologias e recursos humanos. Cada componente, desde a gestão do tráfego aéreo e a alocação de espaços até à automação da triagem de bagagens e dos fluxos de passageiros, deve operar em plena sincronia, e qualquer desvio pode ter efeitos em cascata na segurança e na eficiência da operação.
O AIAAN integra um conjunto de soluções tecnológicas de ponta, como os sistemas de controlo de tráfego aéreo com capacidade de comunicação em tempo real, as tecnologias de segurança baseadas em inteligência artificial e a triagem automatizada de bagagens, além de um robusto Airport Operational Database (AODB) para a coordenação de todas as operações de solo e aéreas. Este nível de complexidade exige uma fase de teste exaustiva, na qual cada sistema é submetido a simulações e a situações de stress para assegurar a resiliência e a redundância operacional.
Para lidar com a capacidade projectada de 15 milhões de passageiros anuais, foi essencial realizar modelagens avançadas que antecipam fluxos de passageiros em diferentes cenários operacionais. Estas modelagens visam permitir a previsão de congestionamentos e o planeamento de ajustes no layout e na alocação de recursos para maximizar a eficiência.
Preparação e contingência: Cuidados essenciais
A preparação de uma operação aeroportuária desta magnitude envolve uma fase intensiva de formação para as equipas responsáveis pela gestão de segurança, atendimento ao passageiro e operações de solo. O AIAAN conta com uma equipa de operações composta por profissionais especializados, que foram submetidos a simulações práticas e formações rigorosas nos novos sistemas e tecnologias, incluindo resposta a emergências e a gestão de crises. Estes protocolos de contingência garantem que, mesmo em situações imprevistas, a operação continue de forma segura e eficiente, minimizando interrupções para passageiros e companhias aéreas.
Para conduzir esse processo de forma alinhada com as melhores práticas da indústria aeroportuária, o Governo Angolano optou pela implementação da metodologia ORAT (Operational Readiness and Airport Transfer) que consiste num conjunto de processos de planeamento, revisão e reengenharia de processos operacionais, e testes de prontidão operacional de uma nova infra-estrutura aeroportuária, que envolve todos os stakeholders intervenientes, como o operador do aeródromo, provedores de serviços de navegação aérea, companhias aéreas, empresas de assistência às aeronaves em terra, operadores logísticos, serviços da administração tributária, imigração, vigilância agro-pecuária e sanitária, forças de segurança nacional, entre outros, de forma a identificar e a mitigar os riscos da abertura às operações do aeroporto.
Paralelamente, estabeleceu-se um processo de coordenação com a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) para assegurar que a transição ocorra com o mínimo impacto operacional negativo e com um adequado nível de segurança operacional e segurança contra actos de interferência ilícita. Esta integração foi vital para garantir a conformidade com os regulamentos nacionais e internacionais, bem como para manter a segurança e a eficiência operacional durante todo o processo de transição.
Conclusão: Uma visão de crescimento e modernidade
A abertura do AIAAN e o processo de transferência gradual dos voos regulares de passageiros marcam a entrada de Angola num novo patamar de conectividade e de modernização aeroportuária. Este novo hub aéreo não só expande a capacidade de processamento de passageiros e carga, mas alavanca também a geração de novos negócios, mais empregos e o crescimento económico e social, posicionando o país como um centro estratégico da aviação civil em África. A transição e a operacionalização do AIAAN resultam de um compromisso com a excelência operacional, no qual cada detalhe foi cuidadosamente planeado para garantir que as operações respondam aos mais elevados padrões de qualidade e segurança.
Para o Airport Temporary Operator (ATO), a missão vai além da inauguração do aeroporto e do início dos voos de carga e de passageiros. Envolve garantir que o AIAAN seja continuamente aprimorado e mantido como referência de infra-estrutura aeroportuária, impulsionando a mobilidade e contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento económico de Angola. A partir deste novo aeroporto, Angola fortalece as suas ligações regionais e internacionais, criando oportunidades para o comércio, turismo e investimento, solidificando o seu papel no sector de aviação global.
*António Pombal, director-geral do ATO