A Oferta Pública de Venda (OPV) de 29,75% das acções do Banco de Fomento Angola (BFA) tornou-se um marco para o mercado de capitais angolano. O processo, concluído com a Sessão Especial de Mercado Regulamentado da Bodiva, na Sexta-feira, 26 de Setembro, confirmou um apetite de investidores raramente visto no país: a procura foi mais de cinco vezes superior à oferta disponível, sinalizando não apenas confiança no BFA, mas sobretudo na maturidade crescente da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva).
O preço final foi fixado em 49.500 kz por acção, elevando o montante arrecadado pelos oferentes a 220,8 mil milhões de kwanzas (cerca de 239,5 milhões de dólares) . No total, foram registadas 22,5 milhões de acções procuradas contra apenas 4,46 milhões disponibilizadas, com um rácio de cobertura de 506,37%. Esta elevada procura resultou num rácio de alocação de apenas 19,81%, obrigando à aplicação de rateio entre as 10.133 ordens que igualaram o preço final da OPV.
A liquidação da oferta está marcada para 29 de Setembro, seguida da admissão à negociação da totalidade das acções ordinárias do BFA no Mercado de Bolsa de Acções, a 30 de Setembro. Mais do que um acto técnico, esta transição representa a entrada de um dos maiores bancos angolanos num espaço de maior visibilidade, disciplina e escrutínio público.
A OPV do BFA transcende o aspecto financeiro. Constitui um teste decisivo à capacidade do mercado angolano de absorver operações de grande escala e de atrair tanto investidores institucionais como particulares. O resultado – uma procura cinco vezes superior – envia sinais claros ao Governo e aos reguladores: há liquidez, há interesse e há confiança crescente no futuro da Bodiva.
Este desfecho fortalece também a narrativa em torno do programa de privatizações em Angola. Num país onde a banca ocupa um lugar central na economia, o sucesso da dispersão accionista do BFA pode abrir caminho para novas operações, não apenas no sector financeiro, mas também em áreas estratégicas como energia, telecomunicações e logística.

O efeito reputacional e a confiança no sistema
A procura massiva revela igualmente um ganho reputacional importante para Angola. Num contexto africano em que poucos mercados de capitais conseguem gerar níveis de cobertura desta dimensão, a Bodiva ganha credibilidade junto de investidores estrangeiros e regionais. Trata-se de um sinal de confiança no processo regulatório, na transparência da operação e no potencial de valorização de activos financeiros locais.
Para os investidores individuais, a OPV funcionou como porta de entrada para um mercado que, até recentemente, parecia distante e reservado a grandes instituições. O facto de milhares de ordens terem sido contempladas, mesmo que parcialmente, democratiza o acesso e pode fomentar uma nova cultura de poupança e investimento entre os angolanos.
Entretanto, o desafio imediato será consolidar este momento e assegurar liquidez suficiente para manter a negociação activa e atractiva após a admissão em bolsa. Experiências semelhantes em outros mercados africanos demonstram que o sucesso inicial de uma OPV precisa de ser sustentado por políticas consistentes de governação corporativa, divulgação de informação financeira e incentivo a novos investidores.
Além disso, o Governo terá de calibrar a sua estratégia de privatizações à luz deste sinal de confiança. Uma calendarização clara de futuras ofertas, aliada a uma comunicação eficiente e a incentivos adequados, poderá transformar a Bodiva num verdadeiro motor de diversificação da economia angolana.
Um antes e depois para a Bodiva
Se em 2024 a Bodiva já tinha dado passos relevantes na expansão da sua base de investidores, a OPV do BFA consolida 2025 como o ano da afirmação. A operação simboliza um antes e depois. Por um lado, demonstra que o mercado está preparado para transacções de escala, que os investidores respondem positivamente a activos financeiros sólidos e, por outro lado, que há espaço para acelerar a integração de Angola nos fluxos regionais e globais de capitais.
O BFA, pela sua robustez e posição dominante no sistema bancário, é agora não apenas um banco, mas também um barómetro da confiança no mercado de capitais. A forma como as suas acções se comportarem nos próximos meses servirá de teste à resiliência e credibilidade da Bodiva e, por extensão, ao próprio projecto de diversificação económica do país.