Opinião

Perfis de riqueza

Pedro Neves

Pedro Neves, Professor na Nova SBE

 

Artigo incluído na edição de Julho/Agosto 2018

 

Nesta edição foi lançada pela primeira vez a lista das pessoas mais ricas de Portugal. A lista será seguramente uma combinação de caras conhecidas e algumas novas. Apesar de partilharem um lugar nesta lista, estas pessoas têm perfis muito diferentes entre si e apresentam percursos de vida e trabalho por vezes quase diametralmente opostos. Isto é dizer que construíram o seu legado com base em competências e recursos específicos, que tiveram sucesso não apenas por usarem as estratégias “certas”, mas por estas estarem alinhadas com o perfil de quem as coloca em prática. No fundo, é uma variação do adágio “todos os caminhos [podem ir dar] a Roma [desde que sejam os caminhos certo para si]”.

 

Um famoso consultor sediado em Singapura, Roger J. Hamilton, desenvolveu um modelo cujo racional é que a excelência advém da combinação de dois factores: escolher fazer algo de que se goste muito e com que se identifique e aproveitar as forças naturais que cada um tem. Da análise de um conjunto de factores (o questionário está disponível online mediante pagamento), Roger Hamilton distingue oito perfis de riqueza:

  • o Criador, um pensador que procura ter uma visão global das coisas, não resiste à necessidade de estar sempre em busca de algo novo e que salta rapidamente de um projecto para o outro, mas que muitas vezes não é o melhor gestor;
  • a Estrela, que tem a capacidade de atrair a atenção dos outros e de brilhar, é autoconfiante, consegue criar uma marca pessoal atractiva, mas com tendência para o burnout pois o tempo não dá para tudo;
  • o Apoiante, caracterizado por competências sociais e de liderança fortes, capaz de dinamizar as suas equipas e fiéis ao seu grupo próximo, mas com dificuldade em garantir sustentabilidade pois não é muito dado a operações e sistemas;
  • o Fecha-acordos, normalmente um óptimo comunicador e com uma crescente rede de contactos, centrado no presente e na identificação dos momentos-chave nas negociações, mas que muitas vezes não tem noção dos seus próprios limites;
  • o Comerciante, que procura as melhores margens de negócio, tem a capacidade de avaliar as tendências e esperar pelo momento certo, mantém a calma quando os outros se começam a preocupar, mas tem dificuldade em antecipar e planear;
  • o Acumulador, que garante a sua riqueza de forma incremental e com base num sistema, é estável, de confiança e raramente age impulsivamente, mas pode ser visto como indeciso e procrastinador;
  • o Senhor, raramente visto, controla recursos naturais (e outros), evita riscos, é poupado e paciente, mas como age com vagar e procura um certo grau de certeza, frustra frequentemente os outros;
  • o Mecânico, com uma orientação prática e tendência perfeccionista, adora desafiar o statu-quo, centra-se nos sistemas e na sua replicabilidade, mas que pode ficar preso em detalhes, perdendo assim a visão geral.

 

Para tornar mais dinâmica a leitura e análise da lista publicada e aproveitar para treinar a sua competência de análise de perfis, gostaria por fim de lhe propor um pequeno exercício (chamemos-lhe ‘Quem é Quem’): tente identificar tanto o seu perfil como o de cada um dos membros da lista e veja se há perfis mais frequentes em Portugal. Estou curioso para ver o resultado.

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