Perfume de uma guerreira

Criativa, com vontade de aprender cada vez mais, sensível, mas ao mesmo tempo determinada. É assim que se descreve Maria Giovanna Pirodd Mendes. Filha de pai italiano e mãe cabo-verdiana da ilha de Santiago, Maria nasceu há 40 anos na região italiana de Alba, mas carrega consigo a tradição e a cultura crioulas. "Desde criança…
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Filha de pai italiano e mãe cabo-verdiana, após formar-se em contabilidade, Maria Mendes lançou-se para o empreendedorismo e fundou a Água de Cabo Verde, empresa de produção de perfumes.
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Criativa, com vontade de aprender cada vez mais, sensível, mas ao mesmo tempo determinada. É assim que se descreve Maria Giovanna Pirodd Mendes. Filha de pai italiano e mãe cabo-verdiana da ilha de Santiago, Maria nasceu há 40 anos na região italiana de Alba, mas carrega consigo a tradição e a cultura crioulas.

“Desde criança que passava as minhas férias em Cabo Verde com a minha família, saboreando assim a tradição e a cultura crioulas”, conta à Forbes a ítalo-cabo-verdiana.

Foi na rede social Linkedln que descobrimos a fundadora da Água de Cabo Verde – uma empresa de direito cabo-verdiano que produz na Itália e comercializa no arquipélago perfumes e ambientadores -, que prontamente aceitou o nosso convite para partilhar a sua experiência empreendedora.

Maria Pirodd Mendes começou por referir à Forbes que o seu espírito empreendedor deriva da vontade de criar, pois diz acreditar que “cada um de nós é capaz de criar coisas extraordinárias”. Apaixonada por perfumes, o desejo de criar projectos únicos e deixar a sua impressão digital levou-a a desenhar e implementar, em 2020, o projecto Água de Cabo Verde.

“Ao entrar no mundo do trabalho, tive de lidar com importantes figu­ras empresariais e fui ganhando consciência nas minhas escolhas. Água de Cabo Verde foi um investimento importante e pensativo, com o objectivo de crescimento constante ao longo do tempo”, explica.

Com sede na cidade da Praia, a Água de Cabo Verde é fruto de uma sociedade de Maria com o seu marido. Os perfumes são produzidos na Itália, pela Dream Flower Parfum – empresa italiana especializada na criação de perfumes artísticos, com a qual firmaram uma parceria. “Os perfumes são uma mistura perfeita de paixão e energia africana, feitos por mão-de-obra italiana”, descreve a empreendedora.

Denominado Alma, o perfume para uso pessoal “quer contar sobre a África em uma tonalidade profunda que aparen­temente não pode ser vista, mas existe”. As próximas versões, avança, “serão liga­das a uma África mais intensa, com um tom mais decisivo e colorido”. Por sua vez, a fragrância Terra da África, denomi­nação do ambientador, “tem tons muito quentes, de uma África ao pôr-do-sol”.

Os ingredientes para a produção de ambos, precisa Maria Giovanna Mendes, são essências florais e lenhosas de plan­tas cabo-verdianas, obtidas com o uso de matérias-primas sintéticas naturais, “que permitem obter a mesma essên­cia refinada”, como forma de reduzir o impacto ambiental e não prejudicar o ecossistema do país.

“Não seria ambientalmente susten­tável privar a natureza desses elementos. A produção é feita respeitando o meio ambiente. Não são utilizados silicones nem parabenos (conservantes utiliza­dos para proteger as formulações dos produtos da proliferação de fungos, bactérias e prolongar sua vida útil), assim como não realizamos testes em animais”, garante.

Actualmente, a comercialização dos produtos é feita apenas em Cabo Verde, através de lojas retalhistas, esperando-se que, em breve, passem a ser comerciali­zados também em hotéis e duty-free, com os quais se está no processo de formali­zação de colaboração.

Em curso, afirma a fundadora da Água de Cabo Verde, estão já contactos para que os produtos da em presa come­cem a ser distribuídos em outros países, não só de África como da Europa, até ao final do ano em curso. “Recebemos vários feedbacks positivos de retalhistas em países como Moçambique, Emira­dos Árabes Unidos e Itália, com os quais estamos a avaliar uma possível colabo­ração.” Mas, assume a empresária, o foco principal no momento é Cabo Verde, terra em que nasceram os perfumes.

Não tendo funcionários directos no arquipélago, a Água de Cabo Verde tem parceria com agências de marketing e comunicação, que se encarregam de promover a marca, com outra empresa que cuida da armazenagem e logística, bem como com um escritório de contabilida­de, que vela pelas questões burocráticas.

Sem se basear numa estratégia con­creta para a comercialização dos seus produtos, Maria procura tirar proveito do facto de os perfumes estarem a ser produzidos em Itália. “Penso que o made in Italy pode ser uma mais-valia, dada a grande tradição italiana no mundo da perfumaria. Isto, aliado às essências de Cabo Verde, pode ser uma combinação perfeita e original”, acredita.

A primeira produção foi de 2000 per­fumes pessoais e 1200 ambientadores. Neste momento, está em fase de produ­ção uma nova essência de perfume, que deve ser lançada nos próximos meses, com quantidades ainda por definir. “A capacidade de produção pode, em qualquer caso, ser superior à primeira”, frisa. Comparando com o Alma, “que possui uma fragrância elegante, requin­tada e exclusiva”, o segundo perfume, revela a empresária, “estará ligado a uma África mais intensa, com um tom mais decidido e colorido”.

O investimento feito no projecto, até ao momento, foi de 70 miI euros, o que corresponde a 35% dos 200 mil euros que se pretende destinar, valor que a empresária diz não ter sido ainda recuperado, por conta da situação pandémica, que alega estar a atrasar o desenvolvimento das vendas. Mas, entretanto, manifesta­se optimista. “Estou confiante de que o projecto, sendo o primeiro do género nos países lusófonos e em qualquer caso um dos primeiros em África, pode real­mente arrancar com o retorno gradual à normalidade”.

Mesmo sem precisar ainda o valor já facturado desde o início das vendas, a empresária, cuja grande ambição é po­der dar a conhecer Cabo Verde ao mun­do através dos seus perfumes, objecti vo pelo qual colocará toda a sua determina­ção, perseverança e paixão, considerou positivo o primeiro ano de actividade, a julgar pelo interesse que os produtos despertaram na sua terra-natal.

É também com grande ambição que a empresária, licenciada em Contabi­lidade e com vários cursos de especia­lização em comunicação, 111arketi11ge organização de eventos, incluiu nos objectivos do seu plano de investimentos a construção de uma fábrica, em Cabo Ver­de, para a produção local de perfumes. “Certamente, são necessárias maquina­rias complexas e técnicas de processa­mento para atingir esse ponto. Portanto, é uma meta de longo prazo. Gostaríamos muito de criar novos empregos em Cabo Verde nesta área”, salientou.

A médio prazo, Maria prevê abrir uma ou mais boutiques no arquipélago, onde,’ juntando o útil ao agradável’, ten­ciona combinar a venda de perfumes com peças de roupa exclusivas, em linha com a marca.

Entretanto, a ‘aventura’ de Maria Mendes no mundo do empreendedo­rismo e dos negócios não começa com a sua Água de Cabo Verde, que fundou em 2020. Dois anos antes [em 2018], a em­preendedora abria na Itália, país em que reside, o holiday home Roncaglia Suite, localizado na região de Langhe e Roero, uma área classificada como patrimônio da UNESCO.

A casa de férias, explica, é uma estru­tura charmosa criada para clientes que procuram tranquilidade e relaxamento entre as colinas repletas de vinhedos e é recomendada principalmente para quem opte por um turismo gastronó­mico e enológico, quer sejam turistas internos [italianos], quer de outros paí­ses europeus.

A casa de férias, explica, é uma estru­tura charmosa criada para clientes que procuram tranquilidade e relaxamento entre as colinas repletas de vinhedos e é recomendada principalmente para quem opte por um turismo gastronó­mico e enológico, quer sejam turistas internos [italianos], quer de outros paí­ses europeus.

A propriedade dispõe de uma zona de bem-estar, com jacuzzi exterior e sauna, que pode ser utilizada durante todo ano, inclusive no Inverno. O investi­mento feito na infra-estrutura rondou os 200.000 euros.  Em média, segundo a empresária, o Roncaglia Suite garante uma facturação anual de cerca de 60.000 euros.

A- ítalo-cabo-verdiana, que nos tem­pos livres gosta de cantar, praticar mus­culação livre e jogar voleibol de praia, considera que os países lusófonos afri­canos “têm um grande potencial de crescimento”, e diz acreditar que, tanto do ponto de vista cultural como ter­ritorial, têm qualidades para emergir num mundo cada vez mais competitivo, defendendo, por isso, estímulos para o empreendedorismo.

ARTIGO PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DEZEMBRO-JANEIRO DA FORBES ÁFRICA LUSÓFONA

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