Em Angola, existe uma lacuna significativa entre as competências disponíveis e as necessidades do mercado, afectando a produtividade e o sustento de muitos trabalhadores, especialmente os que se encontram no mercado informal. Esta desconexão resulta em subemprego, condições de vida precárias e uma utilização geralmente inadequada da mão-de-obra qualificada no país.
Em simultâneo, uma crescente procura por vários serviços permanece subatendida, sobretudo por parte de utilizadores adeptos da tecnologia que procuram conveniência, confiabilidade e qualidade.
Com a vontade de querer ajudar e contribuir para que as pessoas tenham uma vida estável e um crescimento profissional, Manuel Santa Clara Corrêa, um jovem luso-angolano de 37 anos de idade, filho de pai angolano e mãe portuguesa, criou, em 2011, a startup Work, um aplicativo inovador em Angola, que está a transformar a economia partilhada no país. A plataforma põe em contacto freelancers com quem tem necessidade de ver executados trabalhos do quotidiano.
“A plataforma tem o objectivo de conectar profissionais qualificados com clientes que precisam de resolver tarefas do dia-a-dia, desde a jardinagem até reparos eléctricos, oferecendo uma solução simples e eficaz para problemas complexos”, explica à Forbes África Lusófona o jovem formado em Produção Digital.
O empreendedor, que se dedica a tecnologia, criação de software, gestão de projectos tecnológicos e pesquisas de novas soluções para o mercado, conta que o Work é um projecto que já vem a desenvolver há dez anos e que tem vindo a crescer. “Esta é a altura certa. Encontrámos esta oportunidade, vimos que existe mercado neste momento para as pessoas que estão mais ocupadas conseguirem resolver os seus problemas, e, como também sabemos que resolver os problemas com qualidade em Angola por si só é difícil, o Work surge para fazer a ponte que resolve esta bola de problemas”, justifica.
Com a ambição de ter um papel influenciador na criação de software e inovações tecnológicas, Manuel Corrêa começou a conversar com os amigos, e foram estudando como seria a melhor forma de fazer a plataforma. “Num dia em que estávamos sentados em um restaurante, em Viana, eu e os amigos começámos a equacionar como seria o projecto. Foi uma luta grande a escolha do nome, mas depois chegámos a um consenso e achámos melhor ser Work, porque todo o mundo consegue identificar”, recorda.
A partir daquela data começaram a trabalhar com a inteligência artificial, usando o ChatGPT para organizar as ideias, estruturar o plano inicial, até surgir o aplicativo, em 2021.
“Foi uma luta grande a escolha do nome, mas depois chegámos a um consenso e achámos melhor ser Work, porque todo o mundo consegue identificar.”
Delgime Neto, um amigo muito chegado ao CEO da Work, entrou no projecto, tornando-se sócio, sendo o primeiro co-fundador e responsável pela gestão de recursos humanos da startup, tendo se juntado depois também ao grupo de co-fundadores Denilson Moreira, que vela pela área de marketing.
Manuel Corrêa justifica a criação da plataforma com a vontade querer ajudar Angola e as pessoas que não têm um emprego fixo, no caso os freelancers. Com evidências de muita gente com qualificações profissionais, mas sem emprego, a julgar pela quantidade de anúncios colados em vários pontos de Luanda, de pessoas a oferecerem os seus serviços, desde canalizadores, pedreiros, ladrilhadores, entre vários, percebeu haver muita oferta de mão-de-obra.
A ideia, segundo admite, não é inovadora, uma vez existir já em alguns países da Europa, “mas em Angola não existia, nem em África”. Conforme sustenta, decidiu trazer a plataforma para Angola, “devido ao grande potencial de crescimento do país”, como forma de ajudar um grande número de trabalhadores em África. “Nós criámos uma solução que lhes permite encontrar trabalho fácil. Vimos nesta solução caminho para poder criar uma ferramenta que lhes resolve o problema”, diz.
O maior objectivo social do Work é criar uma renda mais estável para as famílias, contribuir para o crescimento profissional das pessoas, dando formação e treinamento para se capacitarem nas áreas solicitadas. A startup faz manutenção, actualização e gestão operacional do aplicativo mobile que tem a missão de conectar o worker e as pessoas. “Vejo o Work neste momento como uma solução mobile que junta pessoas com necessidades diferentes. Temos, por um lado, os workers, os nossos trabalhadores por conta própria, que têm muitas capacidades, têm vontade de trabalhar, mas não têm acesso fácil ao mercado de trabalho e encontram várias dificuldades”, aponta.
A Unitel, empresa estatal de Angola e prestadora de serviços na área de telecomunicações móveis, é um dos parceiros da startup. A parceria, segundo o fundador do Work, consiste na transmissão de know-how, ajudando no crescimento da startup.
“Vejo o Work neste momento como uma solução mobile que junta pessoas com necessidades diferentes.”
O investimento feito na criação da plataforma Work ronda os 80 milhões de kwanzas (87,7 mil dólares). A perspectiva é que no futuro expandam a startup para outras províncias, além de Luanda, com Benguela e Huambo entre as prioridades, assim como pretendem atingir mercados internacionais, começando com a Namíbia, Zâmbia e Congo. “Os investimentos feitos não têm ainda retorno. Sabíamos que isso seria uma estrada com alguns buracos. Isto é uma startup feita a standard e, normalmente, este tipo de startup dificilmente tem retorno nos primeiros três a cinco anos”, afirma, para adicionalmente referir que o objectivo é captar investimento e crescer. “Esperamos começar a ter retorno quando a plataforma atingir 3 a 5 milhões de utilizadores”, perspectiva.
De acordo com Manuel Corrêa, estão posicionados no “vasto mercado da SADC em rápido crescimento, avaliado em 14 biliões de dólares”, com o potencial de atingir 80 milhões de prestadores de serviços até 2030. “O Work é a ponte entre talento e necessidade, e estamos prontos para liderar a próxima revolução da economia partilhada em Angola”, projecta o co-fundador da plataforma.
Actualmente, a plataforma, que factura em média 2 milhões de kwanzas por mês (cerca de 2 mil dólares), conta com 500 trabalhadores freelancers inscritos e pouco mais de 2500 utilizadores.
O mentor do projecto revela que, para os serviços prestados, os pagamentos são feitos através de uma comissão de 15% por cada trabalho concluído, garantindo assim uma fonte de receita sustentável e escalável, acrescentando que cada serviço que o worker realiza gera uma dívida deste para com a startup, que é a comissão, e daí facturam nessa dívida do worker. “O pagamento é feito através de referência entre o worker e o cliente final. Nós ainda não estamos a interferir, estamos a negociar agora com um parceiro para introduzir 100% de pagamentos digitais e online”, precisa. No entanto, admite “não ser tão fácil quanto parece”, porque o método que pretendem instalar ainda não existe em Angola. “Estamos a trabalhar nesse sentido e acreditamos que seremos os primeiros a conseguir em Angola”, garante, optimista.
Dados avançados pelo empreendedor dão ainda conta de que o número diário de clientes que conseguem para os freelancers varia entre 10 e 15, o que considera ser satisfatório. Por outro lado, indica que por dia têm sido feitos 100 a 150 downloands da plataforma.
Com sede no distrito urbano da Maianga, a Work conta neste momento com 10 funcionários. Entre outros serviços prestados pela startup constam a instalação e manutenção de ares condicionados, electricidade, pintura, limpeza doméstica, canalização, manutenção e reparações de electrodomésticos, jardinagem, aplicação de papel de parede e manutenção de piscinas.