Quatro empresários explicam quais são os segredos para as organizações investirem com sucesso em África

O estabelecimento de parcerias locais em África é uma boa forma das empresas portuguesas investirem em negócios neste vasto continente, dado que lhes garante uma abordagem com uma espécie de “guia”, na companhia de quem está no mercado e conhece as especificidades locais. Este foi um dos conselhos dados de forma unânime pelos quatro oradores…
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José Carlos Pinto Nogueira (Mota Engil), Mário Vinhas (MDS), Miguel Ruas da Silva (Tecnimede) e Paulo Oliveira e Silva (Caixa Geral de Depósitos) apontaram quais são os principais fatores facilitadores para o êxito dos negócios em África. Foi no Growth Forum ‘The Global Commerce Exchange’, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).
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O estabelecimento de parcerias locais em África é uma boa forma das empresas portuguesas investirem em negócios neste vasto continente, dado que lhes garante uma abordagem com uma espécie de “guia”, na companhia de quem está no mercado e conhece as especificidades locais. Este foi um dos conselhos dados de forma unânime pelos quatro oradores do painel “Parcerias Estratégicas e investimentos em África”, que decorreu durante a quarta edição do Growth Forum ‘The Global Commerce Exchange’, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), esta quinta-feira, na Nova SBE, em Carcavelos.

José Carlos Pinto Nogueira (CFO da Mota Engil), Mário Vinhas (COO da MDS), Miguel Ruas da Silva (Chief Development Officer do Grupo Tecnimede) e Paulo Oliveira e Silva (Diretor Central Comercial da Direção de Banca de Grandes empresas e institucionais da Caixa Geral de Depósitos) entendem que o êxito dos negócios por parte dos investidores estrangeiros nos mercados africanos passa, em muito, por adotar uma postura de humildade, de saber ouvir os locais.

Nesse sentido, Paulo Oliveira e Silva (Caixa Geral de Depósitos) falou dos dois princípios que estão na base da estratégia da Caixa Geral de Depósitos quando investe em África (proximidade e sustentabilidade), considerando que “a proximidade leva-nos a desenvolver soluções adaptadas às realidades”, ressalvando, todavia, que a “adaptação aos mercados não pode por em causa o compliance”.

Foto: Cristina Bernardo

Para Paulo Oliveira e Silva, a melhor lógica quando se pretende estabelecer negócios em África é “fazer um investimento a longo prazo”. Este gestor alertou os presentes, uma plateia de investidores e empresários, que os investimentos deverão ter uma dose de “prudência” para não colocarem em causa a sustentabilidade financeira da própria empresa, isto no caso de poder haver algum percalço.

Miguel Ruas da Silva (Tecnimed) trouxe à baila as enormes potencialidades de África, quer no presente, quer especialmente no futuro, dando o exemplo do setor da saúde: “África tem 18% da população mundial, mas representa apenas 2% do valor total do mercado na área onde estamos com o Grupo Tecnimed”.

Este grupo empresarial, que instalou em Marrocos em 2017 uma fábrica de produtos oncológicos que exporta para todo o mundo e refere ter avaliações em curso sobre outras possibilidades de investimento, explica que segue duas formas de se internacionalizar: abrir as suas próprias filiais e estabelecer parcerias, que se podem revestir de diferentes tipos de contratos.

Nesse contexto, “é fundamental investir com tempo e conhecer a realidade de cada país”, afirma Miguel Ruas da Silva.

O Chief Development Officer do Grupo Tecnimede entende ainda que, no que diz respeito a investir em África, a Europa terá de agir mais, seguindo mais o que a China está a fazer: “Temos boas intenções, mas quando vemos e comparamos o que a China está a fazer no continente africano com aquilo que a Europa está a fazer, percebemos que há muito por fazer” perante aquilo que classifica como “oportunidades infinitas”.

“Temos boas intenções, mas quando vemos e comparamos o que a China está a fazer no continente africano com aquilo que a Europa está a fazer, percebemos que há muito por fazer”

José Carlos Pinto Nogueira (CFO da Mota Engil) lembrou o percurso da Mota Engil, que nasceu em 1946, em Cabinda, Angola, considerando que a presença da empresa em África “é um compromisso com a região”: “Estamos em 23 países, 16 dos quais situam-se em África”.

De acordo com José Carlos Pinto Nogueira, a estratégia de desenvolvimento da construtora baseia-se num princípio de ser “uma empresa que no mercado local onde atua seja mais relevante. Isso é relevante do ponto de vista do engajamento e do compromisso com as comunidades locais”.

Na perspetiva deste responsável, para se investir em África há que ter uma “visão de longo prazo”, com parcerias a longo termo, com todo o tipo de players, e com capacitação dos quadros locais e transmissão de conhecimento: “Projetos que sejam estruturantes. É aí que estão as principais oportunidades”, destaca este gestor.

José Carlos Pinto Nogueira entende que “todos os setores podem tirar benefícios de África”, incluindo no campo das reservas minerais, energia, transição verde, mobilidade, urbanização e infraestruturas de obras e de serviços, este último setor com um défice ainda grande em África: “Estima-se que África precise de 100 mil milhões de dólares por ano em infraestruturas”, aponta o CFO da Mota Engil.

O facto de a população africana ser jovem é, para o responsável financeiro da Mota Engil, “uma forma motriz para o desenvolvimento” e sustenta fortes hipóteses de desenvolvimento.

Uma das ideias deixadas por José Carlos Pinto Nogueira, na linha do que N’Gunu Tiny tinha transmitido noutro painel, é que o “sucesso em África depende de quem está em África”. “Temos de ser parceiros e não apenas investidores. Trabalhem com quem conhece o terreno e tenham essa humildade de trabalhar com empresas com experiência acumulada. Evitem soluções de ‘copy-paste’”, foram os conselhos deixados pelo diretor financeiro da Mota Engil.

Mário Vinhas (COO da MDS) defende a importância da promoção da literacia financeira e de gestão de risco que os investidores interessados em África, portugueses incluídos, deverão ter, mantendo sempre o respeito pela cultura local: “Investir em pessoas, estudar os mercados, respeitar a cultura, apostar em parcerias locais e ter uma visão a longo prazo” são fatores que Mário Vinhas apontou como essenciais para as empresas estarem em África.

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