Quero deixar a minha marca no mercado de capitais

Com mais de 30 anos de carreira na banca angolana, tendo desempenhado funções de direcção nas áreas de negócio, suporte e controlo de algumas instituições bancárias do país, Anabela Teixeira, 54 anos, é uma mulher proveniente de uma família grande, humilde e que prioriza a educação e a formação profissional. Anabela considera-se uma mãe e…
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Depois de ter acumulado experiência no sector bancário angolano, a contabilista e empreendedora Anabela Teixeira investiu 70 milhões de kwanzas, em 2021, na abertura da ACT – Consultoria.
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Com mais de 30 anos de carreira na banca angolana, tendo desempenhado funções de direcção nas áreas de negócio, suporte e controlo de algumas instituições bancárias do país, Anabela Teixeira, 54 anos, é uma mulher proveniente de uma família grande, humilde e que prioriza a educação e a formação profissional.

Anabela considera-se uma mãe e uma avó presente, apesar do tempo que tem de dedicar também ao trabalho. Diz valorizar a convivência na diferença entre as pessoas, a humildade, o carinho e o amor que aprendeu a espalhar em todos os lugares por onde passa. Para tornar estes valores cada vez mais permanentes, mantém activo o conceito de família na sua génese.

“Estes são os princípios que eu passo aos meus filhos. Ensino-lhes que existe a família, os mais velhos, que merecem respeito, e a necessidade de serem pessoas humildes. Eu tenho dito a eles para não serem vaidosos, porque o que temos hoje poderemos não ter amanhã”, afirma.

Numa altura em que as sociedades se vão tornando cada vez mais imediatistas e com valores mais escassos, diz que transmite aos filhos que existem coisas que não se compram com dinheiro, pois não têm preço, mas valor moral.

Filha de uma doméstica e de um antigo funcionário público, Anabela Teixeira é licenciada em Contabilidade e Gestão pela Universidade Lusíada de Angola, pós-graduada em Finanças e Negócios pela Brazilian Business School e membro da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA), desde a sua fundação, em 2001.

“Quando a Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola foi criada, eu fiz parte do primeiro grupo. Na altura, já prestava serviços de contabilidade a algumas empresas, mas depois decidi me dedicar mais à componente estratégica, porque gosto de olhar para uma empresa e dominar o seu todo”, diz.

A sua trajectória na banca teve início em 1991, no Banco de Comércio e Indústria (BCI), o primeiro banco comercial do país, criado para assumir algumas actividades que eram impraticadas pelo Banco Nacional de Angola (BNA), que na altura, explica, tinha balcões

como um banco comercial tem hoje. “O BCI surge para retirar esta componente [comercial] ao banco central. Havia necessidade de transformar o BNA apenas numa entidade supervisora do sector financeiro e bancário”, lembra.

Começou na área de apoio aos gestores, que tinha a missão de facilitar a abertura de contas. Era uma equipa de jovens, mas que contava com o auxílio dos antigos profissionais do BNA – que não tinham formação superior, porém conheciam a banca no verdadeiro sentido – e do Banco de Poupança e Crédito (BPC). Simultaneamente, também trabalhava na secção de operações cambiais, concretamente na área de emissão de travellers cheques.

“Naquela altura, o nosso mercado não tinha dólares em cash para viagem. Toda a gente que fosse viajar fazia-o com travellers cheques, nomeadamente as pessoas que faziam viagens de negócios e consultas de saúde através da junta médica”, indica.

Com pouca experiência, em menos de um ano, foi transferida para a agência bancária localizada no perímetro do Porto de Luanda, para substituir uma balconista muito experiente que iria gozar o período de férias, o que viria a marcar uma viragem na sua carreira. “Eu fui substituir uma colega que já sabia fazer tudo, e, naquela altura, os balcões faziam tanto operações de crédito como operações de depósito. Usava-se também a componente transacional. Sou uma pessoa que não tem medo do novo, tenho o hábito de correr atrás dos meus objectivos”, assegura.

Uma vez mais, pela sua competência, foi convidada para participar na abertura do Banco Angolano de Investimentos (BAI) em 1996, onde desempenhou o cargo de gestora de clientes. O primeiro passo foi a abertura da agência central. Passados alguns meses, foi novamente convidada para abrir a agência do referido banco na zona do José Pirão, tendo sido a primeira gerente da mesma.

“Foi um novo desafio. Quando somos jovens, vamos atrás do melhor. Essa mudança de emprego traz algumas valências boas não só a nível remuneratório, mas eu vejo também a nível de crescimento e conhecimento. Aprendemos coisas novas, porque vamos trabalhar numa instituição com valores e cultura diferentes. É importante bebermos formas de liderança e realidade diferentes. No final de tudo, o BAI passou-me isso, tive líderes inspiradores”, reconhece.

Depois de quatro anos, foi chamada para fazer parte da equipa que fundou o Banco Espírito Santo Angola (BESA) em 2001, actual Banco Económico, mas declinou de imediato o convite, pois estava a concluir a licenciatura. “Não entrei logo na abertura, mas depois de um tempo me desliguei do BAI e fui logo para o BESA, onde comecei por assumir o cargo de gestora de empresas. Fiquei durante um curto período na área central e recebi o desafio para ser gerente do balcão do Valódia”, lembra.

Anabela Teixeira, que nos tempos livres gosta de ler e gozar da sua própria companhia, considera que o BESA entrou no mercado com um diferencial muito grande, com uma cultura “muito forte” e uma liderança que alinhava bem os seus planos, demonstrando segurança e confiança aos seus quadros e um novo modelo de fazer banca em Angola, sublinhando que o banco tinha uma equipa bastante comprometida. “Ali eu fiz a minha principal carreira. Foi uma boa experiência, muito desafiante e com muitas oportunidades de crescimento, porque os meus líderes apostavam em mim”, enfatiza.

Apesar do sucesso profissional, enfrentou momentos difíceis quando surgiu a pandemia de Covid-19, em 2020, já que as fronteiras estavam encerradas e as duas filhas encontravam-se em Portugal. “Fiquei em casa com o meu filho, que tinha menos de 12 anos, com muito medo, comecei a chorar. Enquanto pessoa, aquilo fez-me muito mal e despoletou algumas situações a nível pessoal”, revela. Para resolver o problema, passou a dedicar o seu tempo à leitura, às redes sociais, e foi deparando-se com mais formações em mentoria e conteúdos sobre personal branding, uma formação que chegou de fazer

com a especialista brasileira em branding Tessa Restier, que actua na área de gestão estratégica no mercado corporativo há mais de 10 anos.

Foi contando a sua história que descobriu que tinha muita experiência acumulada. Liderou 600 pessoas e assumiu mais de 70 balcões. A mentora pediu-lhe para passar toda a experiência ao mercado. Compreendeu que tinha na sua génese a componente de consultoria. Terminada a formação, iniciou a testar os seus conhecimentos na área de consultoria, dando suporte à montagem do modelo de governo e sistema de controlo interno a algumas amigas empresarias que tinham empresas do sector não-financeiro.

Assim, entendeu que tinha capacidade para criar a sua própria empresa com um nível de excelência corporativa. Em 2021, através de um investimento de 70 milhões de kwanzas (cerca de 124 mil dólares à data), abriu a ACT – Consultoria, para apoiar a organização interna das empresas, com um modelo de negócios business-to-consumer (B2C), que tem como princípio trabalhar directamente com o cliente, de modo a identificar as suas reais necessidades.

A cada dia que passa, a empresa tem estado a cumprir o processo de reinvestimento para crescer de forma sustentável. O valor investido ainda não foi recuperado, devido à contracção que se tem registado no sector, justifica a fundadora. A empresa oferece vários serviços, entre os quais diagnóstico empresarial e financeiro, estudo do clima organizacional, adequação do modelo de governo societário, auditoria e compliance, organização do sistema normativo, gestão de projectos, planeamento e gestão fiscal, plano de negócios, legalização de documentos, formação e capacitação, avaliação dos riscos de sistema de informação (TI).

O projecto, que nasceu para colmatar a escassez de líderes no mercado angolano, primando pela valorização do capital humano e excelência corporativa, pretende assumir um papel relevante na transformação das empresas, gerando valor aos clientes, permitindo-lhes atingir resultados visíveis, qualificados e reconhecidos.

Além de dirigir o seu projecto, Anabela Teixeira é desde Outubro de 2023 presidente do conselho de administração da MADZ Global – Corretora de Valores Mobiliários, sem ligação a qualquer grupo financeiro angolano e devidamente registada na Comissão do Mercado de Capitais (CMC). Entre os seus serviços, constam gestão de activos, consultoria para investimentos e colocação sem garantia em ofertas públicas. “Quero deixar a minha marca no mercado de capitais angolano”, aponta.

Capacitar o capital humano

Para além do ramo da consultoria empresarial, a ACT está também focada no desenvolvimento e na capacitação do capital humano, através da sua área denominada

Academia do Ser – Excelência do Ser, com o objectivo de tornar as pessoas mais competitivas e comprometidas em gerar resultados para si e para as áreas em que actuam.

Defendendo alguns valores, como a integridade, qualidade, eficiência, motivação e responsabilidade, a ACT – Consultoria ambiciona ser uma empresa de referência no mercado, com a oferta de serviços de excelência e relação de parceria com os clientes, através de soluções inovadoras, agregando conhecimento e bem-estar à sociedade.

A sua mentora diz que há a necessidade de se potenciar as empresas de uma forte cultura de ética e rigor, visto que muitas delas perdem a sua cultura e identidade corporativa no momento do crescimento.

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