“Quero investir mais em moda sustentável”

Desde 2009, Nivaldo Thierry produz colecções de roupa e seus acessórios para homens e mulheres. Com a sua marca NT, o jovem estilista moçambicano conquista a cada dia que passa novos consumidores, não só a nível nacional como internacional. No seu entender, cada desfile de moda em que participa pelo mundo é uma oportunidade de…
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O estilista moçambicano Nivaldo Thierry considera o mundo da moda desafiador pelas inúmeras dificuldades que apresenta. Mesmo assim, com o toque do país do índico nas suas colecções, tem lutado para mostrar ao mundo que o tradicional pode ser moderno.
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Desde 2009, Nivaldo Thierry produz colecções de roupa e seus acessórios para homens e mulheres. Com a sua marca NT, o jovem estilista moçambicano conquista a cada dia que passa novos consumidores, não só a nível nacional como internacional.

No seu entender, cada desfile de moda em que participa pelo mundo é uma oportunidade de aprender. Diante dessa conjuntura, o foco nas suas colecções é criar uma narrativa visual que seja tanto africana quanto universal.

Depois de ter participado em várias passarelas a nível internacional, hoje, o dono da marca moçambicana NT tem como objectivo investir mais em moda que seja sustentável e no fortalecimento da indústria de moda moçambicana, ainda em construção.

Para fortalecer a indústria da moda em Moçambique, Nivaldo Thierry defende que devem ser criadas infra-estruturas adequadas, e os profissionais, mais bem capacitados. Para si, esses não são os únicos desafios: a limitação de acesso a certos materiais dificulta a produção local em grande escala.

Nivaldo Thierry explica que o seu sonho de vestir os moçambicanos e o mundo nasceu de uma profunda paixão pela moda. Diz que sempre foi fascinado por expressar a identidade e a cultura moçambicana na moda. “Moçambique, com a sua rica herança cultural, especialmente com tecidos como a capulana, inspirou-me a criar peças que não apenas reflectissem a nossa identidade, mas também dialogassem com o mundo”, destaca.

Entre os anos 2008 e 2009, primeiro em parceria com outros estilistas e depois em colecções individuais, Nivaldo estreou-se no mundo da moda ao participar no Mozambique Fashion Week, um espaço que promove a moda moçambicana. Ombrear com outros estilistas foi para si um desafio “tremendo” e uma oportunidade “incrível”.

“Estar lá com a minha própria colecção, sem parceiros, foi uma experiência solitária, porém fortalecedora. Eu queria provar que, mesmo sozinho, poderia representar a minha visão e contribuir com algo único para a moda em Moçambique”, revela o estilista.

Com o tempo, a marca NT foi ganhando espaço tanto no mercado interno como a nível internacional. É em Moçambique que Nivaldo diz encontrar a sua grande fonte de inspiração. Mas isso não o impede de explorar os mercados europeu e asiático, onde considera que a aceitação da sua marca tem sido muito positiva.

“Cada desfile é uma oportunidade de aprender e de levar a essência de Moçambique para o mundo. Participar em eventos como o Angola Fashion Week e o Macau Fashion Week abriu portas para novas colaborações e mercados”, revela Thierry.

Diante de diversos desafios, o estilista entende que o sector da moda nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) ainda está em desenvolvimento, embora exista muito talento e potencial. Para alavancar a indústria no bloco, diz haver necessidade de investir mais em infra-estruturas, na capacitação das pessoas e na promoção dos produtos africanos no exterior. “Acredito que a criatividade e a identidade africana podem fazer uma grande diferença no cenário mundial”, refere.

Uma das componentes das suas colecções tem sido a capulana, um tecido de elevado valor tradicional na cultura moçambicana. Por isso, explica que tal é a expressão do seu desejo de honrar as tradições moçambicanas e combiná-las com a sofisticação do design internacional. Apesar de o nível de exigência internacional ser alto, Nivaldo acredita que é possível mostrar ao mundo que o tradicional pode ser moderno, elegante e sofisticado.

O público-alvo da NT é composto por pessoas que valorizam a fusão entre a tradição e a modernidade nas roupas. “Atendo tanto ao mercado masculino quanto ao feminino, com um enfoque particular em quem aprecia a moda africana reinterpretada para o cenário global”, explica Nivaldo.

Num mercado bastante competitivo, Nivaldo sublinha que o factor diferenciador do seu trabalho está na maneira como faz a combinação entre a estética moçambicana, principalmente através do uso da capulana, com cortes modernos e tendências globais. “O meu foco é criar uma narrativa visual que seja tanto africana quanto universal”, reitera.

Para reactivar a indústria de vestuário no país, que no passado contribuiu bastante para a produção nacional, Nivaldo diz que é preciso realizar mais investimentos públicos e privados. “A reactivação das fábricas de vestuário e o apoio à produção nacional são fundamentais para o crescimento do sector”, concluiu o jovem estilista.

Como forma de tornar as suas colecções uma realidade, Nivaldo trabalha com 20 profissionais, incluindo costureiros, designers e pessoal administrativo. Além disso, tem parceiros estratégicos no país e no exterior.

Para os jovens que queiram abraçar o mundo da moda, Thierry recomenda a persistência associada ao acreditar no talento que cada um tem, assim como o investimento na capacitação. “O mundo da moda é desafiador, mas, com trabalho duro e originalidade, é possível alcançar sucesso”, encoraja.

Já no fecho da entrevista que concedeu à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, Nivaldo Thierry fala da mãe, sua maior incentivadora. “O seu apoio foi fundamental para que eu chegasse aonde estou hoje”, reconhece.

Foco na expansão

Hoje em dia, Nivaldo Thierry diz estar focado em expandir as suas operações, fortalecendo parcerias estratégicas e explorando novos mercados. É sua ambição abrir lojas em grandes centros urbanos e participar em mais eventos internacionais para aumentar a visibilidade da marca NT. “O meu plano é continuar a inovar no design e expandir a marca para novos territórios”, fez saber.

Nas futuras colecções, pretende ainda introduzir mais acessórios e até calçados, sempre mantendo a identidade da marca. Actualmente, a produção da NT é feita em Moçambique, com uma parte específica de materiais importados, para, segundo explica, garantir a melhor qualidade possível. “O público aprecia o toque moçambicano nas minhas colecções e a combinação com o design contemporâneo”, garante.

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