Raízes alentejanas

O Alentejo tem a sua quota parte de responsabilidade na criação da Casa Agrícola Alexandre Relvas, hoje Casa Relvas. Um português nascido em Angola, Alexandre Relvas é um dos “últimos filhos do império” que, quando regressou a Portugal, em 1974, não sentia ligação a nenhuma região do país. Foram as cores, os cheiros e as…
ebenhack/AP
É por uma extensa área de 350 hectares de vinha que têm origem os vinhos da renovada Casa Relvas, que quer estender ainda mais a sua pegada internacional.
Life

O Alentejo tem a sua quota parte de responsabilidade na criação da Casa Agrícola Alexandre Relvas, hoje Casa Relvas. Um português nascido em Angola, Alexandre Relvas é um dos “últimos filhos do império” que, quando regressou a Portugal, em 1974, não sentia ligação a nenhuma região do país.

Foram as cores, os cheiros e as semelhanças com a sua terra natal que o fizeram assentar raízes a sul. “O Alentejo tem uma dimensão paisagística e cultural que sempre me sensibilizou. Eu escolhi o Alentejo como meu destino em Portugal. É a minha terra”, afirma Alexandre à FORBES.

Por outro lado, a família. Alexandre sentiu sempre que um dia estaria ligado ao sector da agricultura e isso deve-se ao facto de ter familiares que o fizeram. Cumpriu esse sonho, quando teve condições financeiras para o fazer, e hoje vive-o ao lado dos filhos e de uma equipa que considera também uma família.

Sem descorar esta forte ligação a Portugal e aos portugueses, os vinhos produzidos por esta casa agrícola são sucessos de venda, também no estrangeiro. Estão presentes em 30 países, sendo que o seu principal mercado de exportação é a Bélgica, seguido de Brasil, EUA, Holanda e Alemanha.

A pensar nesta forte representação lá fora, foi feita uma mudança na imagem e no nome da empresa. De forma a simplificar o nome, sem nunca perder a identidade, Casa Agrícola Alexandre Relvas passou a chamar-se apenas Casa Relvas. “Esta redução do nome é só para o tornar mais simples, mais facilmente compreensível, lido e transmitido por um cliente internacional, mas sem perder este sentido nosso de compromisso pessoal em relação a este projecto”, explica Alexandre.

Um nome em inglês esteve sempre fora de questão porque “a identidade é um factor decisivo” e muito procurada actualmente, “Hoje, o consumidor internacional bebe vinhos de várias origens e quer algo que seja genuíno, que tenha a ver com a identidade da região da qual está a beber o vinho”, diz.

A espelhar essa identidade está o logótipo da marca que passou a ser um sobreiro e um pastor com ovelhas. O símbolo resulta do fascínio que Alexandre tem pelo cata-vento da igreja de São Miguel de Machede, que tem os mesmos elementos, e de se perceber a ligação que o vinho tem ao Alentejo.

Na Casa Relvas trabalha-se com a filosofia de “adaptação total aos consumidores” sempre em mente. Foi dessa filosofia que resultaram, ao longo dos anos, as 15 gamas de produtos que pertencem à marca alentejana. “Nós somos capazes de fazer e queremos servir bem, portanto servir bem é adaptarmo-nos totalmente às necessidades dos nossos consumidores”, explica Alexandre, realçando que os clientes querem, cada vez mais, vinhos exclusivos e adaptados aquilo que consideram ser as suas necessidades.

Este alargamento das gamas foi, na visão do fundador da Casa Relvas, a principal base do crescimento da marca. Mas nem sempre é fácil. Tudo isto “cria uma complexidade industrial enorme”, diz, uma vez que altera questões como a preparação dos vinhos, enchimento, número de rótulos, caixas, duração das séries de produção, entre outras coisas.

A compensar tudo isto está a cumplicidade e proximidade que se cria com os clientes.

O primeiro vinho criado na quinta foi o Herdade de São Miguel, que é também uma das marcas com maior expressão a nível nacional. Seguiram-se muitos outros como são exemplo o Herdade da Pimenta, o vinho de quinta mais elegante e frutado produzido na adega, o Art.Terra, que é produzido através de métodos de vinificação tradicionais e espelha muito bem a filosofia de adaptação ao consumidor, e o São Miguel do Sul, que é uma homenagem à região do Alentejo.

Pelo caminho, a Casa Relvas desenvolveu também algumas edições especiais, sendo a mais recente a edição limitada “Xutos & Pontapés Edição Especial 40 Anos 1979 – 2019”. Este vinho assinala o quadragésimo aniversário da banda de rock e também a parceria entre a Casa Relvas e os Xutos & Pontapés, que tem já 10 anos.

Entre todas as gamas, com preços muito variados que à saída da adega podem ser de 1,80 euros ou 20 euros, no ano passado foram vendidas 5,7 milhões de garrafas, o que resultou numa facturação próxima dos 12 milhões de euros.

Beber pela experiência

O vinho já não é apenas uma bebida para as refeições ou para momentos de convívio com amigos. A tendência actual recai cada vez mais nas experiências que este produto proporciona, uma vez que os consumidores “querem perceber bem a identidade de um vinho”.

Uma das grandes curiosidades do consumidor passa por vinhos produzidos hoje em dia da mesma forma que antigamente. Alexandre conta que os vinhos de ânfora – uma técnica tradicional de produção de vinho – são cada vez mais uma opção para os produtores, que “têm conseguido vender a generalidade da produção”, afirma.

Foi a pensar na experiência que a Casa Relvas apostou no enoturismo. Neste caso, a experiência passa por visitar a adega e provar os vinhos. Os preços destas provas variam entre os 10 e os 40 euros, dependendo no número de vinhos.

Opcional fica a refeição que, apesar de não existir uma zona de restauração na quinta, pode ser arranjada. Para Alexandre, o enoturismo é importante por dois motivos: por um lado “há uma dimensão institucional”, uma vez que o Alentejo se quer apresentar a quem o visita como uma região vitivinícola e a Casa Relvas quer fazer parte dessa oferta, por outro porque é uma forma de divulgação dos produtos da quinta. “Se as pessoas ficarem satisfeitas são divulgadoras do nosso vinho”, afirma Alexandre.

Toda esta dedicação ao universo dos vinhos fez com que Portugal fosse ganhando, ao longo dos anos, uma boa fama além-fronteiras. O fundador da Casa Relvas acredita que esta “perspectiva de qualidade” resulta do trabalho de qualificação das vinhas e adegas que tem sido feito por parte dos produtores e pela grande descoberta recente de Portugal e dos produtos portugueses. Acima de tudo, deve-se ao facto de o vinho português não decepcionar o consumidor. “Os que estão a trabalhar os mercados internacionais têm oferecido produtos de grande qualidade e que satisfazem os consumidores, essa satisfação significa procura crescente”, afirma.

Com o sucesso vem também a responsabilidade de manter o nível de satisfação. O que nem sempre é fácil. Uma das maiores dificuldades dos produtores é o clima, em particular os anos de seca que o país tem enfrentado. “O impacto nas vinhas, quando há secas, não é apenas no ano das secas, sente-se nos múltiplos anos seguintes”, diz Alexandre, que espera agora uma primavera muito chuvosa.

Mais Artigos