A inauguração da Refinaria de Cabinda, presidida por João Lourenço a 1 de Setembro, marcou não apenas o arranque de uma infra-estrutura de elevada complexidade técnica, mas também a abertura de um novo capítulo na segurança energética de Angola.
Para o PCA da Gemcorp Angola, Marcos Weyll, o projecto representa “um marco histórico”, alcançado após anos de planeamento rigoroso e execução num contexto adverso, atravessando a pandemia e as disrupções nas cadeias globais.
“Foi um desafio de engenharia, logística e financiamento pioneiro, que hoje se traduz num activo estratégico para Angola”, afirmou, ao descursar na cerimónia que marcou o corte da fita e o descerramento da placa pelo Presidente da República.
Com capacidade instalada de 60 mil barris/dia, a primeira fase arranca com a produção de 30 mil barris, permitindo reduzir em cerca de 14% a dependência nacional de importações de combustíveis. Quando a segunda fase estiver concluída, a redução poderá atingir 42%. Trata-se de um passo relevante no objectivo de autossuficiência energética do país.
O investimento total da primeira fase ascendeu a 473 milhões de dólares, dos quais 138 milhões em capital próprio dos parceiros e 335 milhões em financiamento sindicado por cinco instituições, nomeadamente a Africa Finance Corporation (AFC), o African Export-Import Bank (Afreximbank), BADEA, IDC e o Banco de Fomento Angola (BFA), num modelo inovador reconhecido internacionalmente e que chegou a ser premiado como Deal of the Year pelo Infrastructure Journal Global.
A participação de mais de 500 empresas – cerca de 200 angolanas, incluindo 90 sedeadas em Cabinda – reforça o impacto local e nacional do projecto. Para se ter uma ideia da dimensão do projecto, foram instaladios mais de 385 km de cabos, 158 km de tubagens e 15 mil toneladas de aço.
A componente tecnológica é outro factor distintivo. A unidade opera em regime zero flaring, sem queima rotineira de gás, sendo pioneira em África na adopção de soluções para reduzir emissões.
“Este é um sinal claro ao mundo empresarial: África tem condições para conceber e executar projectos de escala global, competitivos e sustentáveis”, destacou Weyll, lembrando que a empreitada mobilizou mais de 3.300 trabalhadores, 87% angolanos, com mais de 14 milhões de horas-homens sem acidentes.
Até a refinaria estar em plena operação, serão realizados testes de processamento durante cerca de três meses, tempo necessário para se atingir os padrões de qualidade exigidos para comercialização. Nesta primeira fase serão produzidos gasóleo, combustível para aviação (Jet A1), Fuel Oil pesado e nafta. A produção de gasolina e outros produtos adicionais será considerada em fases futuras, após a conclusão da segunda fase.
Compõem a refinaria de Cabinda uma Unidade de Destilação de Crude (CDU), outra unidade de tratamento de Jet A1, um sistema de atracagem flutuante e gasodutos, bem como uma unidade dessalinizadora.
A execução do projecto envolveu equipamentos e serviços provenientes de mais de 15 países, demonstrando não apenas a complexidade do projecto, mas também a crescente integração de Angola na cadeia global.
Cabinda agradece
Do lado das autoridades locais, a Governadora de Cabinda, Suzana de Abreu, falou em nome da população. “Hoje realizamos um sonho: ver os nossos recursos transformados localmente, criando emprego, tecnologia e novas oportunidades para todos. Cabinda inicia uma nova era de crescimento”, considerou a governante.
O projecto já avança para a segunda fase, com investimentos iniciais de 10 milhões de dólares em engenharia e licenciamento, enquanto se definem os contornos financeiros da expansão.
Para o Governo, trata-se de uma aposta estratégica. Para a Gemcorp, a prova de um compromisso de longo prazo com o país. “É petróleo de Angola processado em Angola, pelas mãos do seu povo e ao serviço dos angolanos”, sintetizou Weyll.
Recorde-se que a refinaria de Cabinda é um investimento privado da Gemcorp (90%), em parceria com a Sonangol – petrolífera estatal angolana – (10%), sem qualquer tipo de garantia soberana.