O Centro Cultural Português em São Tomé acolheu, de 26 a 30 de Outubro último, a VI Edição do Festival de Literatura, que juntou escritores e artistas da lusofonia, com o propósito de trazer ao país novas ideias, através do diálogo entre os amantes da língua portuguesa.
As sessões foram preenchidas com conversa entre escritores de São Tomé e Príncipe, Portugal e Angola, nomeadamente Jerónimo Salvaterra, Maria Francisca Gama e Renata Torres.
“Eu quero muito que as pessoas leiam não só os meus livros. Porque ler dá oportunidade a quem lê de ter mais mundo e eu quero que as pessoas que me rodeiam tenham isso. Eu e mais duas mulheres fundamos, este ano, em Portugal, o clube das mulheres escritoras, uma forma que encontramos para ter um lugar. Por exemplo em Portugal, a maioria dos prémios literários são ganhos por homens e é esse paradigma que queremos mudar”, explicou a escritora portuguesa Maria Francisca Gama.
Por sua vez, a escritora Angola, Renata Torres, disse acreditar ser preciso buscar mais incentivos para a nova geração e sobretudo trabalhar nas questões do género dentro das famílias. “De onde eu venho, infelizmente, os homens angolanos não sabem amar. E temos que ensiná-los. E neste contexto as gerações são importantes. A literatura é isso, é partilha e em cada lugar temos que ajudar principalmente a juventude a se afirmar e a se valorizar. Na minha casa havia de tudo e eu cresci a ver que o papel do género não era tão rígido”, explicou Renata Torres.
Durante a conversa, Jerónimo Salvaterra, escritor são-tomense, deixou claro que as redes sociais não têm tirado o lugar dos livros, enfatizando a necessidade de se incentivar os jovens a usar a internet para outros fins.
“As redes sociais têm a componente de divulgar os nossos trabalhos. É uma ferramenta também a nosso favor. As pessoas leem pouco, estão num sistema de ensino em que não há livros e refugiam-se nos folhetos. E a leitura faz do homem uma pátria. Se a pessoa não lê não consegue escrever bem nem se expressar bem. E temos que começar em casa e depois nas escolas. E esse festival é uma força de cada um dar o seu contributo para os nossos países”, considerou.
Na VIª Edição do Festival o público e os amantes da literatura tiveram a oportunidade de assistir a peças de teatro infantil “Caixinhas, Caixas e Caixotes”, oficina de dança contemporânea, festival de cinema da lusofonia e participar em workshops de dança e teatro.
“Este festival de literatura foi uma oportunidade que os escritores tiveram para expor os seus desafios. A literatura tem um contexto diferente em cada país e eu amei essa conversa entre os escritores e isso é bom porque ajuda-nos, como jovens, a ganhar mais gosto pela leitura”, frisou Letícia Carvalho.
O escritor são-tomense, Caustrino Aucântara, referiu, por sua vez, que, com eventos como estes, São Tomé e Príncipe e os artistas saem a ganhar. Na opinião de Caustrino, nas ilhas do país não se valoriza muito a literatura.
“Não se têm desenvolvido acções que conduzam os jovens a gostarem da literatura. Há um abandono de valores e este festival é o congregar das gerações e tendo a língua portuguesa como eixo é sublime”, afirmou., acrescentando que a língua enquanto instrumento de comunicação deve andar de mãos dadas com a literatura.
A VIª Edição do Festival de Literatura de São Tomé foi organizada pelo Centro Cultural Português, em parceria com o Arte Institute, a União Nacional de Escritores de São Tomé e o Espaço Cacau, com o apoio do grupo Pestana e do BISTP.