Opinião

Seguros em Angola: Compliance e inovação

Assad Kondakji

O compliance vai abrir Angola ao mercado internacional de capitais, ao mesmo tempo que facilita e reduz o impacto dos custos ligados ao financiamento. É importante reflectirmos que para termos acesso aos mercados internacionais é importante estarmos em conformidade com as normas nacionais e internacionais para que as nossas instituições, os seus produtos e serviços sejam apetecíveis para as instituições internacionais.

Num panorama global em constante evolução, o sector dos seguros encontra-se numa encruzilhada de oportunidades, desafios e transformações. A adesão às práticas de compliance, longe de ser um mero exercício regulatório, emerge como um pilar fundamental para a atracção de investimento estrangeiro, abrindo novos horizontes para um sector vital na economia angolana. Este contexto, aliado à implementação estratégica de tecnologias disruptivas, redefine os contornos do mercado segurador, posicionando Angola num lugar de destaque no palco internacional.

O relatório de avaliação mútua de Angola feito pelo GAFI (Grupo de Acção Financeira Internacional), mostra que o país tem feito avanços notáveis, embora continuem a haver desafios que temos de superar. Este cenário não é só uma questão legal, mas essencialmente uma estratégia competitiva para alavancar o acesso ao mercado internacional de capitais e reduzir os custos de financiamento associados.

A conformidade regulatória, ou compliance longe de ser somente uma prerrogativa macroeconómica, tem-se tornado uma prioridade para o sector dos seguros. O Ministro da tutela declarou que um dos seus objectivos é elevar a contribuição dos seguros para 6% do PIB, sendo que para o ano 2022 a taxa se situava ainda abaixo de 1%. O que reflecte a necessidade de um crescimento substancial do sector e sublinha a importância capital de adopção práticas de compliance robustas. A conformidade regulatória, neste contexto, é certo que é uma obrigação legal, mas, ao mesmo tempo, uma necessidade para atrair e manter a confiança dos investidores nacionais e internacionais.

A Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG) desempenha um papel fundamental nesta transformação, com acções regulatórias e sancionatórias que garantem a integridade e transparência do mercado. Estas medidas são indispensáveis para criar um ambiente de negócios seguro, onde a conformidade com as normas internacionais é garantida, elevando assim o perfil do sector aos olhos dos investidores estrangeiros. O aumento de dois processos de transgressão no primeiro semestre de 2023 para dezoito no segundo mostra a determinação do regulador.

A implementação eficaz de medidas de compliance é um desafio substancial em qualquer sector, particularmente num ambiente onde outros processos ainda detêm uma presença marcante. A sua implementação é uma oportunidade única para dar o salto qualitativo em direcção à inovação e ao desenvolvimento. A tecnologia, neste contexto, é um verdadeiro catalisador transformador, capaz de redefinir paradigmas e estabelecer novos padrões de eficiência e segurança.

A transição para a digitalização e a automação dos processos de compliance e análise é uma revolução na forma como as seguradoras operam e competem no mercado global. As ferramentas avançadas de machine learning, inteligência artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) representam a vanguarda desta transformação, por possibilitarem a criação de plataformas digitais integradas. Assim, ao agregar e analisar dados de fontes tanto estruturadas como não estruturadas, permitem uma visão holística e profundamente detalhada dos riscos envolvidos.

No que toca à gestão de risco, a introdução de tecnologias avançadas como a inteligência artificial (IA), machine learning e a Internet das Coisas (IoT) está a redefinir completamente o paradigma. Estas tecnologias permitem uma análise de risco muito mais rápida, precisa e abrangente do que os métodos tradicionais baseados na intervenção humana. Sistemas alimentados por IA e machine learning conseguem identificar padrões complexos e nuances subtis nos dados, de difícil detecção de outra forma, permitindo assim uma avaliação de risco mais refinada e proactiva.

A IoT, por sua vez, conecta um vasto ecossistema de dispositivos e sensores, que geram um fluxo contínuo de dados em tempo real. Esta riqueza de informação proporciona uma base de análise sem precedentes para a tomada de decisões estratégicas, o que permite às seguradoras responderem de forma mais eficaz aos desafios emergentes e anteciparem potenciais ameaças.

Ao adoptar tecnologias disruptivas, o sector segurador consegue uma conformidade regulatória mais eficiente – um imperativo incontornável no cenário global actual – e redefine o seu papel e a sua imagem no mercado internacional. A capacidade de gerir riscos eficazmente transcende a mera protecção contra exposições financeiras e reputacionais uma vez que é vantagem competitiva tangível, capaz de atrair investimentos de grande escala.

Esta vantagem competitiva é duplamente valiosa num contexto onde a confiança e a segurança são capitais. Os investidores e parceiros internacionais procuram oportunidades de negócio, com a garantia de que os seus investimentos estão protegidos contra qualquer forma de risco – legal, financeiro ou reputacional. A eficácia e a robustez dos sistemas de compliance e gestão de risco baseados em tecnologia avançada são, portanto, elementos decisivos na atracção e retenção de investimento estrangeiro.

Angola tem agora uma oportunidade única de posicionar o seu sector de seguros como líder em compliance e inovação tecnológica. A adopção de práticas de conformidade regulatória alinhadas com padrões internacionais e a integração de tecnologias disruptivas são mais do que estratégias de crescimento; são declarações de visão, compromisso e liderança.

Num mercado cada vez mais globalizado e regulado, temos potencial para redefinir o mercado global de seguros, estabelecendo novos padrões de excelência, integridade e inovação. A hora de agir é agora. O caminho à frente é desafiador, mas as recompensas prometem ser imensuráveis. O sector de seguros angolano tem a oportunidade de liderar, inovar e prosperar num cenário internacional.

Resumindo, a combinação de um compromisso inabalável com o compliance e a adopção estratégica de tecnologias avançadas coloca o país na vanguarda da inovação no sector dos seguros. As acções tomadas hoje definirão o futuro do sector como um exemplo a seguir no mercado global. A era de ouro do sector dos seguros está apenas a começar e o seu sucesso contribuirá significativamente para o crescimento económico sustentável do país. O futuro é agora e Angola está pronta para liderar.

Por: Assad Kondakji, CCO da TIS

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