Isabel II (1926-2022) foi a monarca britânica de maior longevidade no poder, tendo assistido a dois conflitos mundiais, sendo rei o seu pai, Jorge VI, e dado posse ao governo de catorze Primeiros-ministros britânicos. Os seus 70 anos de reinado celebrados com pompa em Junho passado deram-lhe qualificações para escrever um livro de autodesenvolvimento best-seller.
À Forbes, seis especialistas compartilham as suas próprias perspetivas sobre as lições de liderança que podemos aprender com a chefe de Estado de 96 anos do Reino Unido que agora faleceu.
Servir para liderar
O estilo de liderança da rainha é melhor resumido pelo lema da academia militar Sandhurst: servir para liderar. “No centro desse ethos está a ideia de que a liderança é um ato de serviço – servindo as pessoas que a pessoa lidera e servindo ao propósito pelo qual está a trabalhar coletivamente”, explica Neil Jurd OBE, autor do “The Leadership Book” e fundador da plataforma LeaderConnect. “Neste estilo de liderança o foco está no exterior, nos outros e no objetivo.”
Jurd destaca como a rainha dedicou a sua vida a servir aos outros, desde que se formou em mecânica de camiões durante a Segunda Guerra Mundial. “Ela trabalhou 30 anos após a idade da reforma do Estado”, diz Jurd, “conhecendo pessoas, incentivando os seus esforços e representando a nação. Tive o privilégio de conhecê-la recentemente e o que mais me impressionou foi como ela arranja tempo para se ligar com as pessoas – sempre com paciência e interesse”
Viva o seu propósito
Ao contrário da maioria das pessoas, a rainha não estava numa missão para encontrar o seu propósito na vida. Ela teve plena consciência do seu propósito desde a abdicação de seu tio, Eduardo VIII, em 1936. Além disso, a sua sensibilidade de propósito brilhou em tudo o que fez, seja abrindo o parlamento, entretendo presidentes ou cumprimentando líderes comunitários numa festa no jardim, realça Anna Eliatamby, psicóloga.
“A rainha Elizabeth II entendeu e viveu o seu propósito com constância, desde o momento em que foi coroada, e independentemente do problema, das circunstâncias e do custo pessoal”, reforça Anna Eliatamby, psicóloga clínica, especialista em bem-estar no local de trabalho e editora de “Healthy Leadership and Organisations: Beyond The Shadow Side”. “Ela pode ter cometido erros e se comprometido, mas isso não a desviou da devoção ao seu propósito – a instituição da realeza, família e obrigação para com o povo”.
Seja resiliente no meio da incerteza
Durante o seu longo reinado, Isabel II experimentou guerra e paz, tempos de expansão e recessões, uma pandemia global, escândalos familiares e tragédias pessoais. No total, foi servida por 14 primeiros-ministros britânicos. No ano passado, perdeu o marido, o príncipe Filipe, alguns meses antes do que seria o seu 100º aniversário. No entanto, voltou ao trabalho dias após a morte do Duque de Edimburgo.
“Nos últimos 70 anos, a rainha experimentou mudanças e incertezas extremas e demonstrou como liderar com resiliência”, observa Gemma Leigh Roberts, psicóloga, fundadora da plataforma de coaching “The Resilience Edge” e autora de “Mindset Matters: Developing Mental Agility and Resilience to Thrive in Uncertainty”.
Leigh Roberts diz que, embora tenha havido momentos em que a rainha simplesmente “aguentou” diante dos desafios, houve outras ocasiões em que ela mudou de rumo ou adaptou a sua abordagem – que são todos elementos críticos da resiliência psicológica.
Colabore
Ser a rainha pode parecer um trabalho de uma mulher só, mas, na realidade, é um esforço de equipa. “A rainha cerca-se de conselheiros”, diz Terry Blackburn, empresário e autor de “Be a Lion”. “Ela não desempenhou o seu papel sozinha – colaborou com as pessoas ao seu redor, tomou decisões com a sua equipa e compartilhou responsabilidades com o resto da sua família.”
Este empresário acrescenta: “Um líder de sucesso sempre terá a mentalidade certa e comunicará bem com outras pessoas. Trabalhar de forma colaborativa e aproveitar ao máximo as habilidades e a experiência da equipa à sua volta é a chave para alcançar grandes coisas.”
Tenha a sua própria marca autêntica
A rainha Isabel II foi considerada como tendo dos rostos mais reconhecidos do mundo. Ela também fica conhecida pelo seu sentido de vestir elegante e distinto. E, ao longo do seu reinado de 70 anos, fez um excelente trabalho na construção da sua marca pessoal através da maneira como agia, o que dizia e, claro, o que vestia, evidencia a coach Eudora Pascall para quem a rainha, agora falecida, era provida de um grande sentido de autoconsciência.
“Se alguém quer ser um líder autêntico, tem que olhar para o interior (como se apresenta diante dos outros) e o exterior (se a imagem que os outros têm de si reflete, de facto, quem você é)”, diz Eudora Pascall, coautora de “Putting the Heart Back into Business: How to place people, planet and purpose at the core of what you do”. “Quando os mundos interno e externo estão em harmonia em alguém, essa pessoa atinge todo o seu potencial.”
Valorize o bem-estar mental
A rainha ficou conhecida pelo seu estoicismo, mas isso não significa que ela tivesse o bem-estar mental garantido. Mark Simmonds, fundador da agência de treino em criatividade “Genius You” e autor de “Beat Stress at Work”, acredita que a rainha cuidava da sua própria saúde mental equilibrando o trabalho com a vida (arranjando tempo para passear com os seus Corgis, visitar os seus cavalos e comer sanduíches de doce de framboesa).
“Ao manter-se ocupada e ao continuar a aprender, os neurotransmissores da rainha continuaram activos”, diz Simmonds. “E isso é amplificado pelo facto de que o trabalho que ela vinha fazendo tinha um propósito e significado.