Angola enfrenta um défice estrutural de profissionais especializados em áreas críticas para a transformação digital, como cibersegurança, inteligência artificial, engenharia de redes, análise de dados e, sobretudo, no desenvolvimento de aplicações ajustadas às necessidades locais e regionais.
O alerta foi lançado, em Luanda, pelo presidente da Associação Angolana de Internet (AAI), Sílvio Almada, durante a sua intervenção no 8.º Fórum Telecom do Expansão, sob o tema “O Triângulo da Digitalização: Serviços Digitais – Inteligência Artificial – Telecomunicações”.
Segundo o responsável, a inclusão digital permanece um dos maiores desafios do país. “Mais de 60% da população ainda não tem acesso a uma Internet de qualidade, o que limita o seu potencial de desenvolvimento”, sublinhou. Apesar do crescimento do sector, os indicadores mostram que o caminho para uma digitalização inclusiva ainda está longe de ser percorrido.
A dependência de soluções importadas é outro ponto crítico. A maioria das aplicações utilizadas no mercado angolano não é produzida localmente, o que limita a capacidade de resposta às especificidades sociais, económicas e culturais do país. Para Almada, incentivar startups, hubs tecnológicos e parcerias com universidades é essencial para estimular a criação de soluções próprias que respondam a desafios concretos, desde a educação e saúde até ao comércio e finanças.
No fórum organizado pelo Jornal Expansão, o presidente da AAI defendeu que o país precisa de um compromisso colectivo para avançar em várias frentes estratégicas, nomeadamente expandir e fortalecer o Angola-IXP, acelerar a migração para o IPv6, consolidar data centers nacionais, ampliar o acesso à banda larga, capacitar jovens em áreas emergentes como inteligência artificial e cibersegurança e dinamizar o empreendedorismo digital.
Apesar das fragilidades, Sílvio Almada considera que Angola tem vantagens competitivas relevantes. Os recursos naturais, aliados a uma infra-estrutura digital em expansão, podem ser alavancas para o financiamento da inovação e para a modernização do ecossistema tecnológico. O desafio central, porém, reside na formação de capital humano, na redução das desigualdades de acesso e na valorização de soluções digitais concebidas no território nacional.
Dados recentes confirmam os contrastes do cenário. Em 2024, segundo a DataReportal, apenas 39,3% da população angolana tinha acesso à Internet – cerca de 14,6 milhões de utilizadores activos. O número de assinaturas móveis activas atingiu 29,2 milhões, correspondendo a 78,4% da população, enquanto o regulador INACOM registava 26,5 milhões de assinaturas de telefonia e 12,8 milhões de utilizadores de Internet. Números que revelam avanços, mas também a exclusão de mais de metade da população do universo digital.
“Com visão clara e compromisso colectivo, Angola pode posicionar-se como um actor relevante no movimento de transformação digital em África”, concluiu Almada, sublinhando que o futuro do país passa por acelerar a formação, estimular a inovação local e consolidar a cooperação público-privada.