Cláudio França é o único luso-angolano e com rasta a ser pivot da Sic Notícias, canal de televisão português. À FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, o jornalista conta que o facto de ser negro nunca foi uma barreia para poder seguir a profissão e alcançar algo mais.
Quem é Claúdio Costa e como entrou na Sic Notícias?
Eu tenho 31 anos de Idade, e entrei na Sic Notícias em 2018, através de um estágio profissional. Estreei-me a pivotar o Jornal da Manhã no dia 20 de Setembro de 2020. Fiz a minha licenciatura em Comunicação em Media no Politécnico de Leiria.
Como foram os primeiros anos na universidade?
Foram de muita concentração, basicamente. Como já entrei um pouco mais tarde, quis focar-me literalmente no que tinha, sendo que entrei um pouco mais tarde, porque entrei aos 23 anos e sabia que iria sair aos 26, um pouco tarde. Durante a minha licenciatura, comecei a praticar râguebi até acabar a licenciatura. Então, tive que ter muita concentração para entrar no mercado de trabalho.
O que é ser jornalista em Portugal?
Jornalismo é uma profissão transversal. A questão da liberdade de imprensa é fundamental em Portugal para conseguirmos investigar, para conseguirmos debater e analisar determinados temas que podem ser um pouco mais sensíveis para a sociedade. E penso que essa questão da liberdade de imprensa acaba por ser fundamental num Estado democrático.
O facto de ser um jovem negro em Portugal nunca lhe inibiu?
Não, de todo. Nem sequer me passou pela cabeça, nem foi uma barreira poder seguir esta profissão ou pensar em algo mais até chegar à posição onde estou. Sei perfeitamente que ainda tenho muito por onde crescer, mas o facto de ser negro nunca foi um bloqueio, nunca foi uma barreira para conseguir alcançar algo mais.
Teve sempre oportunidade para demonstrar o seu potencial a nível do estágio?
Sim. Eu acho que a questão da oportunidade surge também pelo trabalho que vamos mostrando. Se nós chegarmos a algum local e demonstrarmos vontade em evoluirmos, vontade em trabalharmos, as oportunidades acabarão por chegar através do trabalho que estamos a demonstrar. Foi um bocado por aí, foi o abrir portas através do trabalho que fui demonstrado no estágio e a vontade também de apreender mais.

Com a sua entrada, podemos verificar um sentido de inclusão e integração na televisão portuguesa?
Sim, acaba por ser porque houve, obviamente, uma aposta não só, naturalmente, da Sic, ou seja, a apostar também pela vanguarda e por derrubar barreira para demonstrar isso mesmo que qualquer pessoa pode ter essa oportunidade, desde que demostre trabalho. Eu nunca senti nenhum travão, nenhum recuar por parte da Sic no geral. Aqui está, há testemunhos e não se podem comparar, porque cada um é único.
Conhece pessoas que não tiveram a mesma oportunidade?
Do meu lado, o que sinto é, a partir do momento em que cheguei, fui recebido sempre de braços abertos, mas o trabalho que demonstrei tenho a certeza que acabou também por ajudar. Conheço pessoas noutras áreas que se sentiram sempre bloqueadas para conseguir algo mais porque sempre foram muito desacreditadas, mesmo tendo o potencial. Pode ter sido sorte, mas também acho que a questão do ambiente, onde me integrei, onde me senti integrado, acabou por ser fundamental para não ter qualquer tipo de estigma, de medo ou vergonha de apresentar o meu trabalho.
Apesar de estar na Sic Notícias, já chegou a receber proposta de uma outra televisão portuguesa ou angolana?
Ainda não, nunca recebi. Agora estou concentrado ao máximo na Sic Notícias, que foi quem me deu toda a formação, que foi quem me deu todas as ferramentas para fazer o que faço até hoje. Tenho noção que ainda tenho muito a crescer na Sic.
Que peso tem a palavra ‘valor’ na tua vida profissional?
Os valor acabam por nos guiar. As questões da dedicação, do compromisso, da exigência acabam por nos guiar nos percursos profissional e pessoais e que têm sido fundamentais no meu crescimento.