Os países do corno de África, no extremo Nordeste do continente, enfrentam um risco de mortes de crianças em estado grave de má nutrição e outras doenças, segundo o Fundo das nações Unidas para a Infância (Unicef), que alerta que, se nada for feito, “haverá uma explosão em casos de óbito de menores”.
Segundo a vice-diretora regional do Unicef no Leste e Sul de África, Rania Dagash, só na Etiópia, Quênia e Somália, mais de 1,7 milhões de crianças precisam de tratamento para má nutrição aguda com urgência.
Num comunicado publicado há dias no seu website, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) avança que na Somália, desde 2011 até o presente ano, o número de crianças que não se alimentam em condições e que sofrem com a fome subiu de 340 mil, para 386 mil, um aumento de 46 mil menores. Para piorar a situação, enfatiza o Unicef, nos últimos cinco meses, a taxa de má nutrição aumentou 15%, uma realidade que retrata o cenário preocupante que estas populações estão a enfrentar.
A falta de chuvas – que provoca a morte das plantações e o esgotamento dos recursos pelos rebanhos, o número elevado de casas sem acesso à água potável – que entre Fevereiro e Maio deste ano dobrou de 5,6 milhões para 10,6 milhões e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia aumentaram os riscos de morte para as crianças nos países do corno de África, de acordo com Rania Dagash.
A responsável regional do Unicef no Leste e Sul da África mostrou-se igualmente preocupadas com o número de crianças que morrem com complicações nos centros hospitalares nestes países africanos.
Sem avançar números, Rania afirmou que, só neste ano, o número de crianças que morreram de desnutrição aguda grave, devido a complicações enquanto estavam em centros médicos, triplicou, se comparado ao ano anterior.
De Janeiro a Março deste ano, o número de crianças severamente malnutridas que foi parar ao hospital registou um aumento significante, com o Quénia a registar uma subida de 71%, a Somália 48% e a Etiopia 28%, dados que constituem uma grande preocupação para o Unicef, lê-se no comunicado da organização.
Para a implementação de projectos que permitam combater estes fenómenos e ajudar as crianças dos países do corno de África, o Unicef solicitou um financiamento de mais de 12 milhões de dólares, mas recebeu apenas um terço do valor, situação que impossibilita a realização eficaz dos seus planos.
Entretanto, o órgão da ONU que trata dos assuntos das crianças no mundo, deposita a sua esperança no G7, grupo das sete maiores economias do mundo. A reunião da cúpula está agendada para este mês e, embora a guerra na Ucrânia seja o tema principal do encontro, Rania Dagash apela à ‘cúpula’ “para não esquecer as outras crises que também provocam perdas de vidas humanas”.
Jaime Pedro