“Vacina da Covid-19 deve ser reconhecida como bem da humanidade” – João Lourenço

O Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, defendeu nesta Quinta-feira, 23, em Nova Iorque, que “a vacina da Covid-19 deve ser reconhecida como um bem da humanidade, de acesso universal e aberto”, para permitir uma maior produção e distribuição equitativa à escala mundial. O estadista, que discursava na 76ª Sessão da Assembleia…
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Num discurso assente em três pilares [pandemia, paz e segurança e alterações climáticas], o Presidente angolano pediu, na ONU, mais solidariedade e a simplificação dos processos no acesso às vacinas.
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O Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, defendeu nesta Quinta-feira, 23, em Nova Iorque, que “a vacina da Covid-19 deve ser reconhecida como um bem da humanidade, de acesso universal e aberto”, para permitir uma maior produção e distribuição equitativa à escala mundial.

O estadista, que discursava na 76ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, justificou que a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com dimensão global, acentuou a ligação e a interdependência existente entre as nações.

Numa intervenção assente em três ângulos, nomeadamente problemática da Covide-19, a paz e a segurança mundial e alterações climáticas, João Lourenço considerou “chocante” constatar-se a disparidade existente entre umas nações e outras, no que respeita à disponibilidade de vacinas, apontando que estas diferenças permitem, em alguns casos, administrarem-se já terceiras doses, enquanto noutros, como ocorre em África, a larga maioria das populações não está sequer vacinada com a primeira dose.

O líder diz ser, por isso, urgente que se estabeleça, em termos práticos, a compreensão geral de que a solidariedade e a simplificação dos processos no acesso às vacinas, são as únicas vias capaz de conduzir o mundo à vitória no combate à pandemia da Covid-19, por permitir a imunização, a mais alargada possível, dos habitantes do planeta.

“Que sejam discutidas e aprovadas pelas Nações Unidas decisões favoráveis à liberalização do regime das patentes de produção de vacinas para que seja possível a sua fabricação por um número cada vez maior de países, tornando-as mais acessíveis para todos”, sugeriu o Presidente angolano.

No caso concreto de Angola, o Presidente da República afirma que todos os efeitos e consequências negativas da pandemia da Covid-19, que se registam noutras paragens, tiveram também um duro impacto na vida económica e social do país, com prejuízos preocupantes, para os quais o seu governo tem vindo a procurar soluções que ajudem a mitigá-los “para aliviar o sofrimento das populações”.

 

Papel de Angola na estabilidade de África ten sido determinante

Noutro capítulo, Lourenço garante que a República de Angola tem vindo a desenvolver esforços importantes no sentido de contribuir para a paz e a estabilidade na África Central, na região dos Grandes Lagos e noutros pontos do continente, justificando que a sensibilidade do país para os problemas “da paz e da guerra” resultam do longo conflito interno que viveu, durante várias décadas.

Segundo João Lourenço, o longo conflito armado que Angola ultrapassou permite ao país ter a noção da importância da busca de soluções para os diferendos pela via do diálogo e do entendimento entre as partes beligerantes. “Prevalecem ainda vários conflitos em diferentes regiões do nosso planeta, alguns dos quais parecem não ter um fim à vista devido não só à natureza complexa das suas causas, mas, sobretudo, devido à inobservância das normas que regem as relações internacionais e dos princípios de convivência pacífica entre os povos e as nações”, sublinhou.

João Lourenço manifestou-se preocupado com o que chamou de “alteração da ordem constitucional” que se regista em países africanos, com recurso à força militar, “na medida em que estes actos inconstitucionais não têm merecido uma reacção adequada e suficientemente vigorosa da comunidade internacional, no sentido de desencorajar esta prática a todos os títulos reprovável”, tendo indicado como exemplo o que se assiste no Mali e, mais recentemente, na Guiné.

“Consideramos, por isso, ser necessário que a comunidade internacional actue com tenacidade e não profira apenas declarações de condenação, por forma a forçar os actores de tais actos a restituírem o poder aos órgãos legitimamente instituídos”, acentuou.

O Chefe de Estado angolano mostrou-se também alarmado com as ameaças à paz e à segurança mundial que se mantêm por acção de grupos extremistas no Sahel africano, na República Democrática do Congo, em Moçambique e noutras regiões do planeta, que, como disse, obrigam a comunidade internacional a mobilizar-se continuamente para reforçar a capacidade de resposta a esta actividade perigosa que atenta contra a estabilidade social e económica dos países visados.

“Lamentavelmente, assistimos ao regresso do mercenarismo, com o recrutamento a partir de qualquer parte do mundo de profissionais sem exército, pagos para matar, para desestabilizar países, para depor políticos e regimes democraticamente eleitos, mas incômodos”, destacou, lembrando que estes fenómenos, “antes fortemente condenado e combatido”, mas hoje, “infelizmente, encorajado e alimentado por forças poderosas que se escondem no anonimato”.

As alterações climáticas, que estão actualmente na agenda do dia, não passaram à margem da intervenção de João Lourenço na 76ª Sessão da Assembleia Geral. O político advogou que a periodicidade e a ferocidade dos furacões, enchentes, incêndios florestais, deslizamentos de terra, vulcões e tremores de terra, que devastam cidades inteiras e aglomerados populacionais no meio rural, por vezes com um cortejo considerável de mortes, deve chamar a atenção de todos, governos, organizações não-governamentais, académicos, cientistas e sociedade civil, para a necessidade de união de esforços na proteção do planeta terra.

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