Nascida timidamente, em Dezembro de 2017, a Valúdo está a revolucionar a utilização do coco em São Tomé e Príncipe. Aproveitando a produção local do produto, a empresa identificou o coco como uma fruta com potencial diversificado e decidiu investir numa indústria que o acrescente valor, tendo para o efeito inaugurado no país a sua primeira fábrica, em Janeiro de 2018.
De investidores franceses, e numa parceria com o Grupo Duval, a empresa avançou com a empreitada de transformação, numa primeira fase baseada no coco, criando assim variedade na oferta de produtos e dando corpo ao surgimento de uma indústria transformadora desta matéria-prima.
Em conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, Guillaume Taufflieb, jovem engenheiro agrónomo de origem francesa e um dos sócios-gerentes da Valúdo, conta que em conjunto com os parceiros Éric Guillaume e Jean Philippe, do Grupo Duval, observaram que o coco, que existe em abundância no país, tinha elevada qualidade, mas que, no entanto, este produto “de grande valor proteico para vários sectores”, não estava a ser bem aproveitado.
“Existem plantações selvagens em toda a ilha, mas por a dimensão territorial não ser vasta e o impacto ambiental ter vindo a afetar toda a plantação, estes elementos começam a ser um desafio para a nossa produção. Na cosmética podemos verificar que o cheiro é suave e florar, na área alimentícia o óleo de coco é mais saudável e aconselhado que os demais”, aponta, acrescentando que trabalham também com o coco ralado e a farinha de coco.
“Da casca é criada a biomassa para as caldeiras da fábrica, da fibra é feito o adubo para as plantações diversas e da fruta resulta a variedade de produtos para o consumo nacional e para a exportação”, explica Taufflieb.
A indústria de transformação de coco resultou de um investimento inicial de 500 mil euros feito em 2017, que serviu para a reabilitação da fábrica e para executar a primeira linha de produção. Ao longo dos anos foram sendo feitas várias injeccções de capital que completam à data um investimento de cerca de 2 milhões de euros.
Hoje a Valúdo é conhecida pela sua resiliência, variedade, qualidade dos produtos oferecidos e pela sua presença em vários pontos do mundo, em que se destacam o continente africano, Europa e Estados Unidos da América.
A Valúdo – que no crioulo forro (uma das línguas locais) significa coco seco – emprega actualmente 60 funcionários nacionais directos, dos quais 60% mulheres e constitui-se ainda na fonte de renda de cerca de 600 famílias que vendem a matéria-prima à empresa. A colheita e a venda do coco ocorre todo o ano, oscilando a abundância pelas épocas altas e baixas. A empresa compra o coco aos produtores e colectores locais, sendo que os coqueiros selvagens ocupam todo o território nacional.
Os funcionários diretos beneficiam inicialmente de uma formação ministrada por profissionais oriundos de vários países da Ásia, América do Sul e Europa. O propósito da acção formativa é qualificar a mão-de-obra local.
Aposta na diversificação da oferta

Guillaume Taufflieb afirma que com a Valúdo em ascensão e em linha com os seus objectivos, desde cedo estabelecidos, a exportação tem sido um sucesso, bem como a necessidade de aprimorar, inovar e diversificar o painel de matérias-primas.
Neste momento, a aposta na diversificação é uma prioridade, garante. “A produção ultrapassa a oferta de coco no país. Nós somos obrigados a diversificar os produtos. Por exemplo, já estamos a apostar no caroço, na baunilha e no café, pois entre a oferta do coco e a demanda, sentimos um défice”, indica.
Num país com uma extensão territorial de 1001 km², segundo apontou, a diversificação é necessária para a rentabilidade da fábrica. “Criamos fileira de plantação, junto da comunidade, ajudamos os produtores e os colectores para que a concorrência local e dos países limítrofes tenham menos impacto na nossa empresa. Mesmo sendo o principal objectivo a exportação, encontra-se em alguns pontos da cidade os produtos da Valúdo, tornando-se mais acessível a nível logístico e a preço do mercado”, sublinha, dando ainda conta que a empresa reabilita plantações para a sua reflorestação.
Mesmo sendo o principal objetivo a exportação, os produtos da Valúdo encontram-se em alguns pontos da cidade a preço do mercado.
Com a procura maior do que a oferta, os empresários procuram, para além da diversificação dos seus produtos, expandir a indústria de transformação para a zona continental de África, no sentido de conglomerar maior quantidade de matéria-prima, dando cobro à procura que tem vindo a crescer.
O sócio-gerente diz, considera, por outro lado, que o impacto positivo da empresa no país acontece desde a sua génese e é notado a nível social, ambiental e económico. “A Valúdo impacta a nível social, quando temos mais de 600 pessoas que vivem das vendas à empresa, chegando a liderar o meio de subsistência no distrito de Caué, o maior, porém o mais pobre do país. Já no impacto ambiental, a empresa reabilita plantações para a sua reflorestação. E por fim o impacto económico, no exercício da exportação, origina a entrada de divisas para São Tomé e Príncipe”, enumera.
De referir que, em 2021, o país aprovou a lei de proibição de plástico nas ilhas e desde 2015 que acontecem campanhas de sensibilização para a consciência ambiental, preservação do planeta e a cultura da reciclagem, com maior enfoque para a ilha do Príncipe.
Guillaume enfatiza, a concluir, que o impacto ambiental afetou a plantação do coco e, como consequência, a produção da Valúdo.