Vitaly Carvalho: da Guiné-Bissau à Amazónia, uma jornada de resiliência e engenharia

Engenheiro electrotécnico especializado em telecomunicações, Vitaly Jerson da Moura Bento de Carvalho lidera actualmente equipas e projectos que asseguram a melhoria contínua da rede TIM no norte do Brasil. Mas a sua história vai muito além dos cabos e antenas que transportam o sinal. É uma narrativa de resiliência, mérito e identidade africana. Nascido em…
ebenhack/AP
Nascido na Rússia, criado na Guiné-Bissau e formado no Brasil, Vitaly Carvalho transformou uma vida de desafios numa carreira de impacto, liderando redes que conectam milhões na Amazónia.
Líderes

Engenheiro electrotécnico especializado em telecomunicações, Vitaly Jerson da Moura Bento de Carvalho lidera actualmente equipas e projectos que asseguram a melhoria contínua da rede TIM no norte do Brasil. Mas a sua história vai muito além dos cabos e antenas que transportam o sinal. É uma narrativa de resiliência, mérito e identidade africana.

Nascido em São Petersburgo, na Rússia, em 1982, enquanto os pais – um médico militar e uma pedagoga – concluíam a formação académica, Vitaly regressaria ainda criança à Guiné-Bissau, país de origem da família. Foi ali que despertou o interesse pela tecnologia e pela engenharia.

Com a eclosão do conflito político-militar de 1998, a vida deu-lhe a primeira grande prova: a família dispersou-se e ele envolveu-se em acções humanitárias com a Cruz Vermelha, ajudando no recenseamento de famílias deslocadas. Mais tarde, refugiou-se em Cabo Verde, onde completou o ensino médio no Liceu Nacional Amílcar Cabral, na cidade de Assomada, período que recorda com gratidão pela acolhida do tio João Moreira e da tia Lola Andrade.

“Foram pessoas fundamentais numa das fases mais difíceis da minha vida. Cuidaram de mim quando eu mais precisava”, recorda.

Entre 2000 e 2001, regressou a Bissau e chegou a considerar seguir a formação militar, por influência do pai. Mas o fascínio pela tecnologia falou mais alto. Já no Brasil, na cidade de Belém do Pará, licenciou-se em Engenharia Eléctrica com especialização em Telecomunicações pela Universidade Federal do Pará (UFPA), uma das mais prestigiadas do Norte do país, em 2007.

Após uma série de estágios e contratos com empresas prestadoras de serviços técnicos, Vitaly consolidou a carreira numa grande operadora, onde viajou extensivamente pelo interior da Amazónia, testando conectividade em regiões ribeirinhas e remotas. “Foram oito anos de viagens intensas, percorrendo rios e estradas quase inacessíveis, levando sinal a comunidades que nunca tinham tido acesso à comunicação”, recorda.

Essa experiência, que descreve como “um laboratório vivo de engenharia e superação”, consolidou-lhe uma sólida competência em optimização de redes, gestão de equipas e resolução de problemas técnicos complexos. Em 2014, foi contratado directamente pela TIM Brasil, onde hoje lidera equipas multidisciplinares com foco na eficiência operacional e na melhoria da qualidade da rede.

“Trabalhar na Amazónia representa um desafio técnico e logístico único. Há mais rios do que estradas, e muitas conexões ainda dependem de transmissão via satélite. Mas cada obstáculo superado é também uma oportunidade de levar desenvolvimento e dignidade a comunidades isoladas”, partilha o engenheiro.

Com 18 anos de experiência, Vitaly afirma sentir-se privilegiado por integrar uma empresa que cobre 100% dos municípios brasileiros – mais de 5.500 cidades. “Trabalhar na TIM é um privilégio e uma enorme responsabilidade. Sinto que o meu trabalho tem impacto directo na vida de milhões de brasileiros, levando comunicação, acesso à informação e desenvolvimento”, afirma.

Mas a sua jornada também foi marcada por desafios de origem, cor da pele e nacionalidade. Ainda assim, reconhece avanços no campo das políticas públicas e empresariais de inclusão.

“Nesse contexto, é essencial destacar o papel das empresas que assumem a diversidade e a equidade como valores centrais. A TIM é um exemplo, com programas voltados à inclusão racial, à comunidade LGBTI+, a profissionais séniores, mulheres e pessoas com deficiência. Trabalhar com líderes que valorizam o mérito e o respeito, como Anderson Machado e Sérgio Gluck Paul, permitiu-me mostrar plenamente as minhas capacidades”, reconhece.

Apesar do sucesso e estabilidade, o engenheiro mantém uma visão dinâmica sobre o futuro. “A vida é feita de ciclos. Enquanto tiver espaço para crescer na TIM, seguirei dedicado. Mas continuo aberto a novos desafios”, admite.

Questionado sobre a crescente presença da Rússia em África, Vitaly vê o fenómeno com pragmatismo. “Vejo com bons olhos iniciativas de cooperação e investimento tecnológico entre países como Rússia, Brasil e as nações africanas. O intercâmbio de conhecimento pode impulsionar o desenvolvimento do continente”, sublinha.

Hoje, divide a sua vida entre raízes e afectos. “As minhas raízes estão em África, onde mora a minha família e onde sempre será o meu primeiro lar. O Brasil, especialmente Belém do Pará, tornou-se a minha casa por escolha e trajectória. Aqui desenvolvi a minha carreira, construí a minha família e encontrei espaço para crescer como engenheiro e como cidadão.”

No balanço da sua história, Vitaly identifica uma virtude que o define: a resiliência. “Nos momentos mais desafiadores, foi ela que me manteve firme e motivado a seguir aprendendo, trabalhando e evoluindo. Cada obstáculo tornou-se uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional”, conclui.

Mais Artigos