Opinião

“Nanoempreendimento”: Uma nova terminologia? Um novo segmento? O que é e por que importa?

Hélder Catombela

Nos últimos anos, tem sido abundantemente utilizado em fóruns de economia real e desenvolvimento socioeconómico um termo ainda pouco comum no nosso quotidiano: Nano Business, em português, nanoempreendimento. Apesar de soar distante, ele traduz uma realidade muito presente em Angola e em boa parte do continente africano.

O conceito surge como uma evolução do ecossistema do empreendedorismo, fruto da necessidade de diferenciar uma camada ainda mais vulnerável da população, que tradicionalmente não encontra enquadramento nos critérios formais de Micro, Pequenas e Médias Empresas. Enquanto as microempresas podem empregar várias pessoas e movimentar somas consideráveis, o nanoempreendimento situam-se num nível anterior: negócios de baixíssimo investimento, inferior a Kz 500 mil, geridos geralmente por uma única pessoa, quase sempre informal e sem registos contabilísticos, mas com impacto imediato na subsistência familiar.

Na prática, estamos a falar da “zungueira”, que depende da venda do dia para colocar comida na mesa, do engraxador de sapatos, do mototaxista, do vendedor de bancada ou do pequeno agricultor de subsistência. São negócios pequenos demais para serem vistos pelo sistema bancário tradicional, mas grandes demais para serem ignorados no impacto social que produzem. Representam a primeira camada da economia real, o ponto onde a resiliência e a sobrevivência se encontram.

“São negócios pequenos demais para serem vistos pelo sistema bancário tradicional, mas grandes demais para serem ignorados no impacto social que produzem.”

Reconhecer o nanoempreendimento é reconhecer que a maior parte dos angolanos opera nesse segmento, seja na agricultura familiar, no comércio local ou na prestação de serviços básicos. É nesse espaço invisível que representa o alicerce da economia real, sustentando milhões de famílias e criando emprego onde o Estado e o sector formal não chegam.

Por isso, é crítico olhar para este segmento de maneira diferenciada. As soluções de financiamento devem ser adaptadas à ausência de garantias formais, com mecanismos simplificados e de baixo valor. A tributação deve ser específica, proporcional ao nível de operação, evitando sufocar negócios embrionários e processo de formalização deve ser gradual e ajustado, pensado mais como transformação do que imposição, permitindo que o nanoempreendedor encontre incentivo para evoluir para a categoria de microempresa.

Os nanoempreendimentos são, em última análise, a base da pirâmide socioeconómica de Angola. São eles que revelam a força de quem, mesmo sem capital, tecnologia ou estruturas, movimenta diariamente a economia. Dar-lhes visibilidade e políticas adequadas não é apenas justiça social, é sobretudo estratégia económica, porque é desse alicerce que poderá nascer uma Angola mais inclusiva, produtiva e sustentável.

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