Opinião

A ética na auditoria

Walter Correia

No final do ano de 2001, a Enron Corporation admitiu ter adulterado a sua receita e ter ocultado dívidas que somariam biliões de dólares, protagonizando um dos maiores escândalos envolvendo a auditora Arthur Andersen. Neste caso, para além da auditoria externa, a Arthur Andersen também prestava serviços de consultoria à Enron, sendo que a concomitância dessas duas actividades pela mesma empresa são práticas totalmente incompatíveis.

Pelo facto de o serviço de consultoria ser mais rentável, a Arthur Andersen teria forjado os números para fazer jus às quantias recebidas pela auditoria, apresentando uma imagem inapropriada sobre a posição financeira da Enron. Após a falência da Enron, a empresa foi processada criminalmente e condenada por obstrução, devido à destruição de documentos ligados ao caso.

Envolvida em outros escândalos de governança corporativa (WorldCom, Global Crossing, Qwest), a Arthur Andersen provocou prejuízos de biliões de dólares aos investidores, tendo declarado falência devido à perda da sua reputação.

Isto para dizer que todas as profissões possuem implicitamente uma ética aplicada ao seu exercício. Ser um bom profissional não implica apenas uma boa formação técnica. É imprescindível que se tenha também uma excelente formação pessoal que promova a capacidade de respeitar e ajudar a construir o bem-estar daqueles com os quais nos relacionamos profissionalmente e que dependem da nossa acção.

A importância de uma conduta ética de um auditor deriva do reconhecimento que a sociedade tem em relação à profissão, em virtude das suas principais características:

Responsabilidade

O papel do auditor é garantir que as demonstrações financeiras apresentem uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira da empresa. Neste contexto, a independência surge como um pilar fundamental.

Necessidade de Confiança

O maior requisito do trabalho do auditor é a credibilidade. Sem confiança dos utilizadores da informação financeira, a função social do auditor é posta em causa.

Analisando a relevância do trabalho, é crucial que o mesmo esteja cercado de todos os cuidados e documentos que comprovem suas posições e agir em conformidade com os princípios e normas
estabelecidas.

Ao longo da carreira, é comum surgirem dilemas éticos, cujas decisões podem influenciar ou modificar as opiniões de todos interessados pela informação financeira produzida pela entidade auditada. Estes dilemas passam por:

Manter ou não um cliente após ter descoberto comportamentos menos éticos;
Emitir ou não um relatório com reservas sabendo que se o fizer corre o risco de perder o cliente.

Quando os resultados das decisões têm maiores consequências, regra em geral, é utilizado um processo de decisão mais formal, que envolve 5 passos:

Identificar o problema;
Identificar as acções para ultrapassar;

Identificar quaisquer constrangimentos relacionados com os actos;
Analisar os efeitos prováveis das acções;
Decidir qual a melhor opção.

Em suma, a continuidade de toda e qualquer empresa de auditoria depende dos princípios e normas implementadas no exercício das suas funções e da confiança que a sociedade deposita na qualidade dos seus serviços.

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