Opinião

Cimeira UA-EU – Love is in the air?

Nilza Rodrigues

Arranca em Luanda mais um momento Europa – África. Uma relação longa e complexa (são 25 anos) feita de ambições ousadas, incumprimentos frequentes, mas também de alguns avanços reais que importa reconhecer. Desde a Cimeira de Abidjan (2017), que impulsionou iniciativas como o Programa de Emprego Juvenil, até à Cimeira de Bruxelas (2022), que lançou o Global Gateway com investimentos já visíveis em energia, digitalização e corredores logísticos, houve sinais tangíveis de compromisso. Projectos como a expansão de redes elétricas sustentáveis em países da África Ocidental, a aposta europeia em startups africanas e a criação de plataformas de financiamento misto marcam passo.

Mas essa história também revela o outro lado: promessas que ficaram aquém. O pipeline de 150 mil milhões anunciado em 2022 está longe de estar totalmente operacional; muitos mecanismos de financiamento continuam lentos, burocráticos e distantes da realidade das PMEs africanas. É precisamente neste contexto que Luanda ganha peso estratégico: mais do que uma cimeira, é um teste ao que realmente funciona nesta parceria.

A agenda é sólida. O plenário sobre o acesso ao financiamento, com representantes da UA, UE, AfCFTA, BERD e Afreximbank, toca no coração do problema: África enfrenta ainda um custo de capital desproporcionado, enquanto fundos europeus são excessivamente condicionados. A provocação impõe-se: será que esta relação está preparada para passar de “apoio” para co-responsabilidade?

Nos painéis temáticos, há espaço para convergências e tensões. Em energia renovável, África avançou com projetos solares e eólicos financiados em parte pela Europa, mas ainda espera verdadeira transferência tecnológica. Em logística, apesar do suporte europeu à AfCFTA, os gargalos de infraestrutura persistem. Na saúde, houve progressos, recorde-se o apoio da UE às primeiras fábricas africanas de vacinas, mas a soberania sanitária continua dependente de negociações lentas. E nas ligações digitais, o continente beneficiou de investimentos europeus em conectividade, embora ainda insuficientes para a escala demográfica africana.

Esta cimeira poderá marcar um ponto de viragem se a Declaração Empresarial final assumir métricas claras, monitorização anual e compromissos vinculativos, algo que tem faltado em cimeiras anteriores.

Luanda tem a oportunidade de romper o ciclo. Mas isso exige coragem política, confrontação e compromisso real e não apenas fotografias oficiais.

Artigos Relacionados